Caixa registra lucro no terceiro trimestre, mas funding do setor imobiliário preocupa. Verticalização impulsiona Campo Grande (MS) e capital tem imóveis mais caros do que cidades litorâneas. Reforma tributária coloca em risco investimento em imóveis para locação, apontam advogados.
Caixa registra lucro no 3º tri, mas funding do setor imobiliário preocupa
A Caixa Econômica Federal obteve um lucro líquido recorrente de R$ 3,263 bilhões no terceiro trimestre de 2024. O montante representa uma queda de 0,7% em relação ao trimestre anterior e um aumento de 0,7% na comparação com o mesmo período de 2023. A carteira de crédito do banco atingiu R$ 1,209 trilhão em setembro, com um crescimento de 3% no trimestre e 10,8% em um ano.
A carteira imobiliária, que compõe 67,1% do total de créditos da instituição, fechou o período com R$ 812,152 bilhões –um crescimento de 3,6% no trimestre e de 14,7% em 12 meses. Desse total, 58,5% é financiado pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e 41,5% pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).
Recentemente, a Caixa endureceu as condições para financiamento imobiliário diante do volume crescente de saques das cadernetas de poupança – origem dos recursos utilizados pela instituição para oferecer os empréstimos via SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo). Segundo Carlos Vieira, presidente da Caixa, o orçamento para 2024 está equacionado, mas os desafios persistem para 2025, com as dificuldades de funding.
A vice-presidente de Habitação da Caixa, Inês Magalhães, já havia afirmado, anteriormente, sobre a necessidade de um conjunto de ações para resolver o impasse, visto que não existe uma “bala de prata” para a questão do funding.
As projeções da Caixa para 2024 incluem um aumento de 7% a 11% na carteira de crédito total, com avanços nos segmentos de habitação e infraestrutura. Segundo a instituição, a inadimplência no crédito imobiliário caiu para 1,42% em setembro, enquanto no agronegócio subiu para 3,35%.
Em transações, o banco reportou um aumento de 52,4% no digital e uma redução de 7,9% nos atendimentos físicos, devido à modernização dos serviços e à expansão digital. A carteira de crédito comercial para pessoa física da Caixa encerrou o trimestre com R$ 133,198 bilhões, alta de 0,6% sobre junho. Já a de pessoa jurídica subiu 2,1%, totalizando R$ 99,978 bilhões.
Fonte: Valor Econômico
Campo Grande tem imóveis mais caros do que cidades litorâneas
Na capital do Mato Grosso do Sul, os preços dos imóveis superam valores encontrados em cidades litorâneas de outros estados brasileiros, apesar da valorização imobiliária modesta, de 2,08% até outubro, segundo a Fipe. Um apartamento de 123 metros quadrados no Bairro Monte Castelo, por exemplo, é vendido por R$ 1,2 milhão, enquanto um imóvel similar em Boa Viagem, Recife (PE), custa R$ 1,1 milhão.
“Campo Grande está passando por um processo de verticalização, gerando grande procura por apartamentos, o que valoriza os imóveis”, explica Bruno Flores, agente que atua na capital sul-mato-grossense. A cidade apresenta custo médio do metro quadrado de R$ 5.658, próximo ao de Natal (RN), que é de R$ 5.612.
Bairros como Carandá Bosque, Vila Nascente e Jardim Veraneio ganham destaque, com lançamentos focados em qualidade de vida. Uma casa com 166 m² no Carandá, por exemplo, está anunciada por R$ 1,320 milhão, enquanto em Jurerê, badalada praia de Santa Catarina, um imóvel com 150 m² é comercializado por R$ 950 mil, uma diferença de 38,95%. Na Região Prosa, o metro quadrado chega a R$ 10.764, superando até mesmo regiões nobres de Recife, com média de R$ 9.732/m².
No ranking nacional de valorização, porém, Campo Grande ocupa a penúltima posição em relação ao crescimento do mercado imobiliário em 2023. Nos últimos 12 meses, o aumento foi de 4,28%, representando uma desaceleração em comparação com 2022, quando registrou 14,03% de valorização.
Eli Rodrigues, presidente do Conselho Regional de Corretores de Mato Grosso do Sul (Creci-MS), pontua que o atual cenário de financiamento dificulta as vendas. “Está caro e difícil de se fazer, o que segura o aumento dos preços”, destaca.
Reforma tributária coloca em risco investimento em imóveis para locação, apontam advogados
O setor imobiliário teme impacto da reforma tributária sobre aluguéis residenciais. Com a substituição de PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), proprietários pessoas físicas podem ser surpreendidos e tributados além do Imposto de Renda, alertam especialistas.
O Secovi-SP afirma que entidades do setor estão em negociações para minimizar possíveis efeitos negativos. No texto atual, já foi conquistado um redutor de 60% na alíquota base do IBS e CBS, que está em 26,5%.
Rodrigo Dias, do escritório VBD Advogados, calcula que seria necessário um redutor de 80% para manter a carga atual de impostos. “Com tributação próxima de 20%, o investidor pode questionar se vale comprar apartamento para alugar”, analisa.
A preocupação central é que a nova legislação permita interpretar que pessoas físicas que alugam imóveis possam ser tributadas, especialmente se tiverem múltiplas propriedades ou aluguéis expressivos. Aposentados que dependem da renda de aluguéis são um grupo particularmente vulnerável.
A advogada Moira Regina de Toledo, da Lello, ressalta que o texto permite interpretações que podem incluir pessoas físicas no novo regime tributário, caso atuem “de forma preponderante” em atividades econômicas. O alerta segue o entendimento de outros advogados, consultados pelo jornal Valor Econômico, que apontam termos vagos no texto da reforma, que geram dúvidas, especialmente para proprietários com poucos imóveis.
A carga fiscal sobre locações realizadas por empresas deve aumentar, já que essas já pagam ISS e ICMS. Martina Zajakoff, do Machado Meyer, explica que pequenas holdings familiares, usadas para planejamento sucessório, podem sofrer com mudanças no regime tributário.
O relatório da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, apresentado por Izalci Lucas, propõe um redutor de alíquota de 80%, conforme busca o setor. Contudo, a aprovação ainda está em negociação.
O debate segue, com ajustes necessários para evitar que a reforma tenha impactos adversos no mercado de locação. Fernanda Figlioulo, do Machado Meyer, compara com cenários internacionais, lembrando que alguns países não tributam locações sob o regime de IVA, enquanto outros, como Portugal, preveem essa tributação. Ela destaca que investidores em fundos imobiliários (FIIs) não serão afetados, o que pode incentivar mudanças nas estratégias de investimento imobiliário.
Fonte: Valor Econômico
“Reorganização” impacta resultados trimestrais da Even
A Even Incorporadora reportou um prejuízo líquido de R$ 109,9 milhões no terceiro trimestre de 2024, atribuído a uma reorganização estratégica da empresa. Segundo Marcelo Dzik, diretor financeiro e de Relações com Investidores, apesar do resultado negativo, a companhia “continua saudável e lucrativa”, focando em operações de alto padrão em São Paulo.
O prejuízo decorre principalmente da venda das ações na incorporadora gaúcha Melnick, que gerou um impacto contábil negativo de R$ 106 milhões. Excluindo essa participação, a Even obteve um lucro líquido de R$ 164 milhões nos primeiros nove meses do ano, aumento de 21% em comparação ao mesmo período de 2023. A receita líquida acumulada atingiu R$ 1,7 bilhão, um crescimento de 38% em relação a 2023.
Dzik ressaltou a estratégia da Even em reduzir estoques, que resultou em vendas de R$ 841 milhões de janeiro a setembro de 2024. Esse movimento gerou R$ 212 milhões em caixa, recursos que serão alocados na operação em São Paulo.
O diretor financeiro afirmou ainda que a incorporadora planeja continuar com lançamentos de projetos de alto padrão nos próximos meses, embora decisões ainda estejam pendentes. “A expectativa é lançar mais este ano, com bons produtos previstos para os próximos trimestres”, declarou Dzik, sem especificar datas exatas para os novos lançamentos.
Fonte: Estadão