Alta da Selic pressiona mercado imobiliário e Abrainc cobra responsabilidade fiscal do governo. Incorporadoras pedem ampliação do MCMV para famílias com renda até R$ 8,5 mil. Cyrela observa diminuição no uso de financiamento imobiliário entre seus clientes, especialmente nas classes média e alta.
- Alta da Selic pressiona mercado imobiliário e Abrainc cobra responsabilidade fiscal do governo
- Incorporadoras pedem ampliação do Minha Casa, Minha Vida para famílias com renda até R$ 8,5 mil
- Cyrela registra aumento nas vendas e lucro recorde
- Herdeiro da Tecnisa lança empreendimento de crédito imobiliário para construtoras médias
Alta da Selic pressiona mercado imobiliário e Abrainc cobra responsabilidade fiscal do governo
A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) criticou a recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic para 14,25%. Em nota, a entidade alertou que “os juros elevados restringem o acesso ao crédito, dificultam investimentos e ampliam as despesas financeiras de famílias e empresas, com efeitos profundos em diversos setores produtivos do país”.
A Abrainc ressaltou ainda que o Brasil ultrapassou a Argentina, ocupando desde fevereiro a primeira posição no ranking mundial de juros reais. A associação entende a necessidade de redução da pressão inflacionária com a política contracionista, mas enfatizou a necessidade de “responsabilidade fiscal e maior controle do gasto público” para reduzir a Selic de forma sustentável nos próximos anos.
Segundo levantamento da Rico, uma variação de 1 ponto percentual na Selic resulta em uma alteração expressiva no crédito imobiliário, que só vai se apresentar daqui 6 meses. “O aumento de 0,43 ponto percentual na atual taxa média de financiamento representaria um acréscimo de cerca de R$ 29.337,19 em juros em um financiamento de R$ 500 mil, parcelado em 30 anos pela tabela SAC”, afirma.
Por outro lado, o setor tem mostrado resiliência em um cenário de juros altos. Em 2024, houve crescimento de 11,8% nas vendas de novos imóveis em comparação com 2023, o maior patamar desde 2014. O desempenho foi impulsionado tanto pelo segmento de Médio e Alto Padrão (MAP) quanto pelo Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
Nayara Técia, CEO do Grupo ON Brokers, mantém uma visão otimista. “O setor se adapta e segue sólido. Segundo a Abecip, em 2024 foram financiados R$ 186 bilhões em imóveis e, mesmo com a projeção de R$ 155 bilhões para este ano, o mercado continua atrativo.”
Já o diretor da G-+P Soluções, Sylvio Pinheiro, alerta para os riscos futuros, diante de patamares de juros tão altos. “O mercado tenta se reinventar, mas estamos caminhando para um freio no setor com mais esse aumento da Selic.”
Na mesma linha segue o economista e diretor da Administradora Nacional, Victor Tulli. “No médio e longo prazo, será inevitável o impacto do aumento do custo dos financiamentos habitacionais. As parcelas ficarão mais caras, dificultando o acesso à casa própria. Consequentemente, é provável que haja maior procura por imóveis para aluguel, pressionando ainda mais esse mercado.”
Ainda que os juros aplicados pelos bancos ao oferecer financiamentos não cheguem ao mesmo patamar da Selic, a escalada acaba respingando negativamente no setor imobiliário, porque prejudica a tomada de crédito para construção civil, apontam analistas.
Fontes: O Globo e Jornal do Commercio
Incorporadoras pedem ampliação do Minha Casa, Minha Vida para famílias com renda até R$ 8,5 mil
Além da proposta do governo federal de criar mais uma faixa de renda para o Minha Casa, Minha Vida (MCMV), incorporadoras que atuam no segmento estão solicitando ao governo um ajuste nas faixas de renda dos mutuários já atendidos pelo programa. As empresas argumentam que o crescimento da renda média da população fez beneficiários subirem de faixa, perdendo subsídios e enfrentando dificuldades na compra de imóveis.
Por exemplo, uma família na faixa 1 tem direito a subsídios de até R$ 55 mil na entrada e juros entre 4% e 5% ao ano, enquanto na faixa 2 perde o subsídio e os juros sobem para até 7% ao ano. A proposta do setor seria aumentar os limites atuais da faixa 1 de R$ 2.850 para R$ 3.000; da faixa 2 de R$ 4.400 para R$ 4.700; e da faixa 3 de R$ 8.000 para R$ 8.500.
Contudo, a ideia não é consenso dentro do governo. Até agora apenas a faixa 3 não foi reajustada, permanecendo no limite de R$ 8 mil. Um interlocutor ponderou que este valor “já cobre uns 80% da população”, mostrando-se reticente a novos ajustes, já que o último ocorreu em agosto de 2024.
Nesta semana – como já adiantou o Portas Abertas – o governo surpreendeu o setor ao propor uma nova faixa no MCMV para famílias com renda até R$ 12 mil, para atender a classe média, a mais prejudicada pela restrição e encarecimento do crédito.
Para viabilizar a expansão, o governo solicitou ao Congresso a modificação da Lei Orçamentária Anual (LOA) para destinar R$ 15 bilhões do Fundo Social do Pré-Sal ao programa. O Ministério das Cidades ainda não se pronunciou sobre o assunto.
Fonte: Estadão
Cyrela registra aumento nas vendas e lucro recorde
A Cyrela surpreendeu o mercado com resultados positivos no último trimestre de 2024, apesar do cenário de juros elevados. A empresa reportou um lucro líquido de R$ 497 milhões, representando um aumento de 100% em relação ao mesmo período de 2023. No acumulado do ano, o lucro atingiu R$ 1,65 bilhão, um crescimento de 75% em comparação com 2023.
Miguel Mickelberg, diretor financeiro da Cyrela, argumenta que o aumento nas taxas de juros do financiamento imobiliário não resultou em alta nos distratos. A empresa registrou um aumento de 44% nas vendas em 2024, totalizando R$ 9,3 bilhões, um recorde para a companhia. Os lançamentos também cresceram 45%, alcançando R$ 9,6 bilhões.
Uma tendência observada pela Cyrela é a redução na parcela de clientes que recorrem ao financiamento imobiliário, especialmente nos segmentos de médio e alto padrão de São Paulo. Na marca Living, de médio padrão, a parcela caiu de 68% para 62%, enquanto na marca Cyrela, de alto padrão, houve uma redução de 45% para 41%.
“O que vimos é um aumento dos clientes que fazem a quitação com recursos próprios”, disse Mickelberg, acrescentando que não é possível saber se o cenário vai persistir. O cliente da empresa paga, em média, 50% do imóvel até a entrega das chaves, valor que tem se mantido.
A empresa aumentou sua presença no segmento econômico através da marca Vivaz, ampliando de 15% para 24% do Valor Geral de Vendas (VGV) lançado em 2024. Essa estratégia busca aproveitar a menor vulnerabilidade da baixa renda às taxas de juros, devido à inclusão no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
Ainda segundo Mickelberg, uma possível mudança no MCMV, com a adição de uma quarta faixa de renda para famílias que ganham entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, seria positiva para a Cyrela, expandindo seu mercado potencial.
Apesar dos resultados positivos, o executivo ressaltou que as previsões para 2025 são mais incertas do que o normal. No entanto, a empresa mantém a capacidade de um “ligeiro crescimento” nos lançamentos, desde que as condições de mercado sejam favoráveis.
Fonte: Valor Econômico
Herdeiro da Tecnisa lança empreendimento de crédito imobiliário para construtoras médias
Renato Meyer Nigri, filho caçula do fundador da Tecnisa, Meyer Joseph Nigri, está expandindo sua atuação no setor imobiliário. Além de seu cargo como diretor de novos negócios na Tecnisa, Renato fundou a Rayo Capital, uma consultoria especializada em viabilizar transações imobiliárias, em parceria com seu amigo de infância David Glezer.
A Rayo Capital tem como foco a originação de crédito para incorporadoras médias, aproveitando a experiência de Renato na avaliação de projetos e negociação de terrenos. A empresa estrutura financiamentos por meio de fundos imobiliários, fundos de direito creditório e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).
Um exemplo recente de operação da Rayo é o lançamento de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de R$ 200 milhões em parceria com a BRZ Investimentos. Deste total, R$ 60 milhões serão destinados a quatro projetos, incluindo uma permuta financeira no Itaim e um empreendimento do programa Minha Casa, Minha Vida na Vila Sônia.
Glezer, responsável pela estruturação das operações, ressalta o interesse de investidores estrangeiros. “O Brasil está relativamente barato para eles, mesmo com a queda recente do dólar. Eles ainda enxergam muito valor travado no país”.
A Rayo Capital planeja expandir sua equipe de seis para 20 funcionários até o final do ano, focando principalmente na área comercial. Glezer não descarta a possibilidade de a empresa ser adquirida por um banco ou gestora no futuro, citando exemplos recentes no mercado como a compra da Mogno Capital pela Valora.
Fonte: Pipeline