Crédito com garantia de imóvel cresce mais de 70% nos últimos 12 meses. Incorporadoras do Minha Casa, Minha Vida vivem ‘fase de ouro’ e batem recordes de lucro no terceiro trimestre. Financiamento de usados desaba mais de 80% após aperto de regras do FGTS.
Crédito com garantia de imóvel cresce mais de 70 por cento
O crédito com garantia, que usa um bem – seja ele um imóvel, um carro ou até mesmo um investimento em previdência privada – como uma espécie de seguro de pagamento, vem crescendo rapidamente no Brasil. O Crédito com Garantia de Imóvel (CGI), por exemplo, cresceu mais de 70% nos últimos 12 meses, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
O home equity, como também é conhecida essa modalidade, utiliza imóveis como lastro para financiamentos oferecendo taxas de juros mais baixas do que as formas tradicionais, além de prazos estendidos, de até 20 anos, atraindo tanto pessoas físicas como jurídicas.
Segundo Sandro Gamba, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), esse “é um produto recente no Brasil, mas com potencial para dobrar em menos de cinco anos”. Em 2024, o volume de CGI já soma R$ 23 bilhões, com expectativa de crescimento acelerado, impulsionado pelo Marco Legal das Garantias, que permite o uso de um mesmo imóvel como garantia para múltiplos empréstimos.
Até setembro deste ano, o volume de crédito garantido por imóvel somou R$ 7,95 bilhões. Para comparação, a produção do mês de setembro de 2023 foi de R$ 640 milhões, contra R$ 1,17 bilhão de 2024, sendo quase o dobro de um ano para o outro – sem o impacto do Marco Legal das Garantias, que começou a valer em outubro.
Bruno Crocco, empresário de São Paulo, optou pelo CGI para reformar seu apartamento e investir em sua empresa de meios de pagamento. A modalidade foi escolhida após comparar com outras opções de crédito, onde as taxas eram significativamente mais altas. “Consegui viabilizar a operação com a garantia”, afirma Crocco.
O empresário Luciano Costa, de Goiânia, também escolheu essa modalidade para renovar o maquinário de sua marca de cosméticos, utilizando um imóvel alugado como garantia. “Achei interessante as parcelas e os juros mais baixos”, comenta.
O CGI funciona como no jogo Monopoly, mas na realidade o crédito não pode ultrapassar 60% do valor do imóvel, podendo ser usado para renegociação de dívidas e investimentos.
O Santander é um dos principais players, liderando o segmento privado com linhas para múltiplas alienações. Outras instituições, como Caixa Econômica Federal e Itaú, também oferecem crédito com garantia de imóvel, com taxas variando entre 1% e 1,5% ao mês, menores que o crédito consignado e pessoal.
Os custos adicionais incluem avaliação do imóvel e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Luis Felipe Carchedi, da Oxy Companhia Hipotecária, vê o CGI como oportunidade para quem tem imóvel quitado e busca crédito com menor risco.
Já Ana Maria Castelo, da FGV IBRE, alerta para o planejamento necessário ao contratar CGI, recomendando uso para emergências e não para despesas correntes. A alta da Selic exige cautela na escolha das condições de crédito.
Fontes: O Globo e Money Times
Incorporadoras do Minha Casa, Minha Vida vivem ‘fase de ouro’
As incorporadoras do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) registraram resultados recordes no terceiro trimestre de 2024, marcando o período mais favorável do programa em seus 15 anos. A receita líquida das principais incorporadoras somou R$ 6,0 bilhões, um incremento de 31% em comparação a 2023. O lucro líquido consolidado no trimestre alcançou R$ 539 milhões, marcando um crescimento de 143%.
O aumento do lucro em um ritmo maior que o da receita se deve à diluição das despesas administrativas e comerciais. A margem bruta média do setor atingiu 34,7%, alta de 2,8 pontos porcentuais. E a margem líquida chegou a 9%, avanço de 4 pontos porcentuais. Segundo analistas, essa fase positiva deve continuar, apesar dos desafios com a inflação de materiais e mão de obra.
A análise do mercado imobiliário, conduzida pelo sistema de notícias do Grupo Estado, focou em cinco empresas listadas na bolsa: Cury, Direcional, MRV, Plano & Plano e Tenda. Os destaques da temporada foram Cury e Direcional, segundo os analistas do Santander e do Citi, que destacaram a capacidade das empresas combinarem elevação de vendas, receita, margens e geração de caixa. A MRV, por sua vez, viu as ações despencaram na bolsa porque ainda tem dificuldade de gerar caixa e baixar a dívida alta.
“As empresas estão em um momento muito positivo em termos de reconhecimento de receita e crescimento da rentabilidade”, observou Fanny Oreng, analista de construção civil do Santander. Ela atribui o sucesso às recentes mudanças no programa MCMV, que ampliaram o poder de compra dos consumidores.
Apesar dos bons resultados, há preocupações com o aumento dos custos de materiais e mão de obra, além da inflação setorial acima da média nacional, como alerta André Mazini, analista do Citi. O orçamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para o MCMV permanecerá estável em 2025, mas com um aumento de 12,5% nos recursos para novos imóveis.
Alterações feitas pelo governo federal desde 2023 contribuíram significativamente para o desempenho positivo do setor. Houve aumento no subsídio para aquisição de imóveis, redução de juros para famílias de baixa renda e aumento do teto de preços dos imóveis, além da extensão do prazo de financiamento. Essas medidas, junto a subsídios estaduais, impulsionaram as vendas.
O programa Casa Paulista, por exemplo, oferece subsídios de R$ 11 mil a R$ 16 mil, enquanto o Morar Bem e o Casa Fácil, de Pernambuco e Paraná, respectivamente, disponibilizam R$ 20 mil. No terceiro trimestre de 2024, os lançamentos do MCMV somaram 47.525 unidades, um aumento de 31,8%, e as vendas atingiram 46.142 unidades, crescendo 46,9% em relação ao ano anterior, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Fonte: IstoÉ
Financiamento de usados desaba mais de 80 por cento
O financiamento de imóveis usados com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) desabou após o governo decidir priorizar a construção de novas moradias. No programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), a Caixa Econômica Federal registrou uma redução de 85% no crédito para imóveis antigos nos últimos dois meses. Para cotistas com renda superior a R$ 8 mil, a queda foi de 98% entre maio e outubro.
A compra de imóveis usados no MCMV, que foi permitida no governo Bolsonaro, chegou a ser expandida por Lula para reduzir o déficit habitacional, estimado em 6,2 milhões de moradias. Em 2023, imóveis usados representaram 29,32% dos financiamentos do FGTS, mais que o dobro de 2022.
Contudo, o governo atual decidiu restringir esse tipo de financiamento, considerando-o desbalanceado dentro do orçamento do FGTS. Medidas como redução de subsídios e aumento da entrada mínima foram implementadas, especialmente para famílias com renda superior a R$ 4,4 mil.
Com essas mudanças, a participação dos imóveis usados no financiamento do FGTS caiu para 27,4% até outubro, comparado a 31,2% até agosto. A restrição resultou em um declínio de 70% nas concessões em setembro, totalizando R$ 423 milhões, um recuo de 85% desde agosto.
O orçamento do Pró-Cotista também foi ajustado, limitando o financiamento de imóveis usados a rendas inferiores a R$ 12 mil, com uma entrada mínima de 50%. O governo destinou R$ 13,3 bilhões do orçamento do fundo para moradias antigas, buscando equilibrar o apoio à construção de novas unidades habitacionais.
Fonte: O Globo
Construtoras reduzem dívidas e distribuem dividendos, mesmo com Selic alta
As construtoras brasileiras têm demonstrado resiliência e estratégia frente à alta da taxa Selic, que tradicionalmente impacta negativamente o setor imobiliário. Enquanto o Ibovespa subiu 2,28% nos últimos seis meses, as ações do setor imobiliário cresceram 7%, segundo aponta o índice IMOB.
Empresas como Cyrela, MRV, Direcional e Cury adotaram medidas eficazes para mitigar os impactos dos juros elevados, como controle de custos, redução de endividamento e até pagamento de dividendos, algo raro em setores de crescimento.
Especialistas apontam que a gestão eficiente e a adaptação ao cenário de juros altos têm gerado lucros e aumentado a rentabilidade das construtoras. Régis Chinchila, da Terra Investimentos, destaca a recuperação sustentável do setor, enquanto Gianluca Di Matina, da Hike Capital, observa que muitas empresas reduziram endividamento e mantêm uma estrutura financeira sólida.
As construtoras focaram em acelerar lançamentos em programas habitacionais de baixa renda, como o Minha Casa, Minha Vida, menos sensíveis às variações da Selic. Para as classes média e alta, estratégias como oferecer financiamento direto aos clientes visam reduzir a dependência de crédito bancário. A distribuição de dividendos também atraiu investidores, com a Direcional se destacando ao pagar R$ 0,46 por ação em setembro.
Apesar das melhorias, analistas alertam que o setor ainda depende de fatores macroeconômicos como estabilidade fiscal e taxa de juros. A Genial Investimentos ressalta que a alta dos juros imobiliários e restrições de financiamento aumentam o receio dos investidores, mantendo o setor exposto a riscos econômicos.
Embora as estratégias adotadas ajudem a enfrentar cenários adversos, a influência dos juros altos e a dependência do consumidor pela Selic ainda são desafios significativos. Portanto, o setor não é unanimemente recomendado, ao contrário de áreas mais defensivas como bancos e energia. As construtoras estão mais eficientes, mas a ciclicidade e a sensibilidade aos juros permanecem.
Fonte: Infomoney