Escolher o piso de um apartamento pode ser a decisão mais importante, complexa e dispendiosa de uma obra. Afinal, o revestimento estará embaixo dos seus pés todos os dias, sendo parte relevante de um projeto de interiores.
A escolha – que passa normalmente por decidir entre a madeira natural e outros materiais – deve partir da necessidade de cada lar. “O primeiro passo é entender qual será o uso daquele piso. Se você mora em uma região fria, vai preferir um piso mais quente. Se tem criança, vai precisar de algo mais resistente. E por ai vai”, explica a arquiteta Flavia Burin, do Studio HA.
A tecnologia ajudou a criar materiais diversos, resistentes, esteticamente charmosos e aconchegantes, que estão em alta. É o caso dos pisos vinílicos e dos porcelanatos que imitam os veios da madeira. No entanto, a madeira natural continua sendo um objeto de desejo dos consumidores residenciais.
“A madeira sempre foi considerada, e ainda é, um acabamento mais nobre”, explica Flavia. “Esse piso traz conforto acústico e térmico, mas precisa de cuidados especiais, já que a madeira natural sofre com o tempo, o que dá o status de alto padrão”, complementa. Entre esses cuidados está proteger da umidade, do sol, evitar produtos abrasivos (com aqueles que contém álcool, água sanitária, entre outros), proteger de rodinhas e móveis que se arrastam e podem danificar o assoalho, além de repor a saúde com ceras e lixamentos quando necessário, sempre com orientação profissional.
A arquiteta conta que dificilmente os clientes chegam com uma proposta diferente da madeira para o piso, apesar de o mercado já oferecer produtos resistentes, aconchegantes e com valores mais baixos. “Querem sempre a madeira. No entanto, ainda é o material mais caro do mercado, até porque é extraído da natureza.”
Flavia alerta para uso de madeira de procedência legal. “É importante salientar que a madeira deve ser sempre certificada”, adverte.
Piso de madeira: vantagens e desvantagens
A gerente de produtos e jornalista Lívia Perozim passou pela difícil decisão sobre o piso que escolheria na reforma do apartamento em Higienópolis, na região central da capital paulista. “O prédio é da década de 1950. Por baixo do piso laminado, colocado pelo antigo morador, descobrimos os tacos de madeira originais”, conta.
“Como o projeto de interiores tinha como objetivo resgatar a arquitetura original do prédio, e também porque gostamos do conforto que a madeira traz, decidimos mantê-la. Mas quando tiramos o antigo laminado, o taco estava ruim, com partes podres nos quartos. Na sala tinha um ‘taquinho‘ cheio de falhas, que nem se fabrica mais. Tivemos que retirar praticamente todo o piso antigo e substituir por um taco mais atual”, explica Lívia.
Com ajuda do estúdio MaCunha, da designer Márcia Cunha, Lívia e o marido escolheram usar em todas as áreas secas do apartamento – e parte da cozinha aberta para a sala – o taco de madeira cumaru, com paginação no formato “dama”. “Decidimos por um taco de tamanho mediano, que fica mais em conta, e também estava mais próximo do original do prédio. A sensação de calor é maravilhosa e ficou lindo”, diz Lívia.
“O cumaru é uma madeira densa e dura muito tempo, portanto é um ótimo custo-benefício. Quando pegamos apartamentos antigos com piso de cumaru, normalmente a madeira permanece perfeita”, explica Márcia Cunha.
A designer lembra que há vários tipos de madeira para serem usadas no piso, algumas mais resistentes e outras menos. “O tauari, por exemplo, é mais barato, mas também é uma madeira mais macia. Se um objeto cair com força, pode deixar uma marca. Até um salto alto pode deixar marcas”, afirma.
“Na minha casa, por exemplo, o piso de madeira usado foi a perobinha e está perfeito há 60 anos. Também é uma madeira resistente”, diz a Márcia. “Às vezes, a madeira se estraga porque teve exposição à água, houve vazamento por baixo do piso, ou porque foi coberta por um carpete, sem deixar respirar. Mas, se for bem cuidada, vai durar muito.”
Os tacos são colocados um a um, possibilitando várias paginações. “Além da paginação dama, tem a escama de peixe, espinha de peixe, diagonal e amarração. O taco dá um ar mais moderno ao décor. As tábuas corridas dão uma impressão mais clássica”, avalia a designer Maria Cunha.
A escolha por tacos de madeira em vez de tábua corrida também ajuda a diminuir os custos do piso no orçamento. Os tacos podem ser feitos de sobras de outros recortes de madeira e, na hora da colocação, são mais fáceis de ajustar aos espaços. No caso dos tacos de tauari, costumam ser encontrados nas medidas que variam entre 7 X 14 cm e 10 X 40 cm, e podem custar a partir de R$ 180 o metro quadrado.
Assoalhos de tábuas grandes e longas, mais próximo do natural, são lindos e caros. Uma tábua de tauari de 18 milímetros, medindo 2 metros de comprimento por 12,7 centímetros de largura, pode custar a partir de R$ 250 a unidade. “Mas as tábuas estão na moda de novo”, conta Flavia Burin.
A arquiteta também explica que, quanto mais clara for a madeira utilizada, mais macia ela será. “Tem cliente que quer um piso claro de madeira, mas explico que, se for andar com sapato de salto, arrastar um móvel ou se tiver crianças pequenas que batem brinquedos no chão, seu piso vai marcar.”
Piso laminado para orçamentos restritos
Chamado de laminado, o piso melamínico é composto por fibras de madeira em camadas, como aglomerado e painel de madeira de alta densidade (HDF), e recebe uma aplicação de resina melamínica que deixa o piso mais resistente à abrasão.
Esses pisos também oferecem conforto térmico e imagem semelhante à madeira, mas ainda deixam a desejar quando o assunto é acústica. “Eles costumam fazer aquele barulho quando pisamos com sapato, não absorvem o som como o vinílico”, diz Flavia. Essa é a principal diferença entre o piso laminado e o vinílico, além da durabilidade.
“A colocação do piso laminado é bem rápida, feita por cima de uma manta, e pode ser feita em um único dia. Mas há desvantagens como delaminar (começar a levantar a camada adesiva da madeira) com o tempo, e nunca pode molhar”, alerta a arquiteta.
Apesar das desvantagens, especialistas dizem que o piso laminado ainda é muito procurado por clientes que não dispõem de um orçamento robusto para aplicação de um piso com maior valor agregado. Os preços variam bastante, em média entre R$ 40 e R$ 70 o metro quadrado. Mas uma boa negociação no valor da mão de obra pode influenciar na decisão pelo piso laminado.
Vinílico: um bom custo-benefício
Durável e resistente até à água e ao sol, o piso vinílico foi ganhando cada vez mais espaço nos projetos de escritórios de arquitetura e designers renomados.
Feito à base de pvc (policloreto de vinila) e com desenhos dos veios da madeira impressos, o piso vinílico pode oferecer o mesmo conforto térmico e acústico que a madeira natural proporciona. E ainda tem a vantagem de não ser afetado pelo tempo e resistir à queda de objetos (não risca e não descasca), podendo ser usado em áreas molhadas, como cozinha e banheiro.
“Por conta do material, o vinílico segura a temperatura bem melhor que os demais materiais que estão disponíveis no mercado”, explica Flavia Burin. “No entanto, ainda há clientes que resistem à ideia de utilizá-lo.”
A arquiteta lembra que o material, quando começou a ser usado, era mais fino, vinha em rolo e era aplicado principalmente em escritórios, talvez pela resistência.
Atualmente, há diversas espessuras, formatos, tons e opções de desenho de madeira. Começam em 2 milímetros e vão aumentando a espessura até 6 milímetros. Há vinílico à base de cola e o clicado (peças que se encaixam), que podem ser colocados de maneira muito simples, em um dia.
“A variedade é muito grande e a escolha também vai depender do uso. Se o material for colocado por cima de um piso já existente, eu indico que tenha no mínimo 6 milímetros, para não fotografar o piso de baixo”, diz Flavia.
“Entre os materiais disponíveis no mercado, além da madeira natural, eu prefiro o vinílico. Em relação ao orçamento, quando comparado o valor da instalação de um porcelanato – em média R$ 120 o metro quadrado – e somar com a aplicação da argamassa e da mão-de-obra, ficará no mesmo valor do vinílico. Então o custo-benefício do vinílico é maior”, avalia.
Esse tipo de piso é ótimo para quem tem pets, por exemplo, porque é fácil de limpar. “Um pano molhado em água e detergente resolve. Mas não deve ser usado dentro do box do banheiro, ou em um local que vai receber chuva”, alerta Flavia Burin. Os valores dependerão do tamanho das réguas, espessura, e se é clicável ou de colar, e variam entre R$ 45 e R$ 500 o metro quadrado.
Porcelanato com aparência de madeira
Outra opção de piso com cara de madeira, mas com custo mais baixo do que o produto natural, é o porcelanato amadeirado. Mas, nesse caso, só é indicado para clientes que moram em apartamentos quentes, ou que preferem ter o mesmo piso em todas as áreas do apartamento (incluindo banheiro e cozinha), mantendo a ilusão da madeira.
“É frio, não tem o conforto térmico que os outros pisos têm e com o tempo e o uso pode lascar”, afirma Flavia Burin. Mas, assim como os demais pisos que parecem madeira, são mais uma opção para quem está preocupado com a sustentabilidade. “Evitar a madeira natural acaba sendo uma atitude ecológica”, pondera a arquiteta.
Os valores do porcelanato que imitam madeira, assim como os demais revestimentos frios, oscilam, dependendo da marca, modelo, acabamento e tamanho. Existem versões a partir de R$ 50 o metro quadrado e outras que podem ultrapassar os R$ 100 por metro quadrado. O custo final de colocação também depende da mão-de-obra contratada.
Colaboração de Marcela Guimarães
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