Saiba como usar o site FlightRadar para encontrar rotas e como avaliar o desempenho acústico de um apartamento durante visitas.
Morar em uma cidade grande sem lidar com eventuais ruídos de aviões é praticamente impossível hoje em dia, e quem mora próximo aos aeroportos e rotas de pouso e decolagem precisa redobrar a atenção para lidar com esse tipo de som de forma saudável.
Ruído de avião: como funciona?
A ANAC, a Agência Nacional da Aviação Civil, define ruído aeronáutico como: “aquele oriundo das operações de circulação, aproximação, pouso, decolagem, subida, taxiamento e teste de motores de aeronaves”.
Trata-se de “ruído intermitente ou não estacionário, com elevados níveis sonoros na sua fonte, podendo causar efeitos adversos sobre a população exposta a níveis excessivos desse tipo de ruído”. Ou seja, pode causar problemas para a vizinhança.
A ANAC ativamente trabalha com esse tema, identificando curvas de ruído sonoro e ângulos de manobra que façam menos barulho, e aplica normas internacionais para diminuir o incômodo inevitável das turbinas.
Isso porque o Brasil tem alguns dos aeroportos mais movimentados do mundo, como Guarulhos (Grande São Paulo), Congonhas (São Paulo), Santos Dumont e Galeão (ambos no Rio de Janeiro), cada um com centenas de voos diários e funcionamento praticamente 24 horas, 7 dias por semana.
Isso significa que todos os dias há aviões riscando o céu ao decolar, pousar e seguir suas rotas mundo afora partindo de pontos centrais como estes, onde há sempre muitas moradias por perto.
Cada parte do voo tem seu nível de ruído, o que causa impactos diferentes na qualidade de vida de quem mora na rota do avião – do trepidar de janelas ao som constante das turbinas.
Nos Jardins, por exemplo, ouvir um avião distante algumas poucas vezes por dia, conforme ele decola de Congonhas, não é incomum. O barulho, que dura alguns segundos, rapidamente se mistura aos sons cotidianos e some dos ouvidos.
Já em partes de Moema, bairro vizinho a Congonhas – e considerado um dos melhores da cidade! –, o ritmo e a frequência do ruído podem realmente incomodar. Entre constantes pousos e decolagens, há pouco respiro entre um e outro, às vezes menos de 10 minutos.
Para quem não é vizinho imediato, o ruído depende bastante da rota da aeronave, que inclui curvas para manobrar e controlar o tráfego nos céus.
Quem mora mais ao leste de Congonhas, por exemplo, pode até se livrar dos sons de pousos e decolagens, mas tem que lidar com a constante ponte aérea Rio-São Paulo enquanto o avião ganha altura ou se prepara para descer.
E o que o excesso de barulho faz com o organismo?
Viver em um ambiente constantemente ruidoso faz mal à saúde, visto que barulhos acima de níveis considerados normais (chamados de poluição sonora) podem ter efeitos estressantes no corpo.
As pessoas podem dormir pouco ou mal, ter dor de cabeça, sofrer com estresse e aumento da pressão sanguínea, entre outros problemas. Ou seja, não é um mero detalhe: é algo que pode fazer muita diferença no dia a dia!
Abaixo, reportagem da DW Brasil explica o que é poluição sonora e quais são seus efeitos no corpo humano:
Como saber se o apartamento fica em rota de avião?
Morar perto de um aeroporto já é sinal de alerta para quem se preocupa com ruídos de forma geral.
A boa notícia é que as rotas de avião são pré-traçadas por autoridades e seguidas à risca pelos pilotos, então é raro surgir alguma rota “surpresa” que atrapalhe a saúde dos moradores. Tanto que, quando surgem novas rotas que impactam a tranquilidade de algum bairro, associações de moradores logo entram com ações judiciais exigindo explicações das autoridades.
Sites como o FlightRadar24 permitem acompanhar o tráfego aéreo em qualquer parte do mundo, incluindo helicópteros (outra grande fonte de ruído aeronáutico em São Paulo) e aviões particulares. Para conhecer as rotas programadas de e para um aeroporto, siga esse passo a passo:
- Na home do site, clique em Data/History
- Em seguida, no menu superior, clique em Airports
- Digite o nome do aeroporto em questão na barra de busca
- Já na página do aeroporto, clique em Routes
- No mapa que se abrirá abaixo, clique em “Show all routes” e veja as rotas agendadas para os próximos 7 dias
A outra forma, que complementa a anterior, é perguntar para quem já vive esse som no dia a dia: moradores e funcionários do prédio em questão saberão dizer quais são as rotas e horários mais comuns, assim como o nível de barulho esperado.
Para entender “na pele” o que te espera em um apartamento que fica em rota de avião, experimente o barulho em primeira mão: durante a visita, fique próximo à janela ou à sacada para ouvir o ruído de alguma aeronave passando. Não passou nada? Você pode ficar um tempo nos arredores do prédio, a pé ou de carro, para tentar de novo.
Quando faz sentido morar perto de aeroportos?
Esse tema não significa, no entanto, que um aeroporto valoriza ou desvaloriza uma dada região: todo mundo sabe que ele está lá antes de assinar os papeis. Deve-se pensar, portanto, no que faz mais sentido, em termos de prós e contras, para cada perfil de morador.
Para quem voa constantemente a trabalho, como um executivo que frequenta a ponte aérea quatro ou cinco vezes por mês, poder chegar no aeroporto a pé, sem trânsito e sem estresse, pode ser um grande diferencial.
Já para quem tem filhos pequenos, com ouvidos sensíveis ao barulho, pode ser um problema grande a ponto de exigir a instalação de janelas antirruído (que exigem investimento financeiro) ou mesmo uma mudança de endereço.
Há maneiras de proteger sua casa de ruídos de avião?
Teddy Yanagiya, especialista em acústica do escritório paulista Harmonia, explica que o ruído de avião tem baixa frequência, o que dificulta torná-lo totalmente inaudível. Por isso, a melhor solução para atenuar o barulho seria mesmo a instalação de janelas antirruído.
Mas ele lembra que não é só porque o aeroporto está por perto que os aviões vão reverberar: tudo depende das rotas. “Eu mesmo moro muito próximo ao aeroporto de Congonhas, na Vila Mascote, e não dá para ouvir nada”, diz.
Como analisar um apartamento em termos de acústica ao visitá-lo
Teddy explica que a norma ABNT NBR 15.575 é o texto que estabelece o que um prédio residencial precisa entregar em termos de acústica atualmente, e aqueles construídos a partir de 2013 já entregam o mínimo previsto por ela.
Essa extensa norma de desempenho se organiza em três categorias: desempenho de paredes internas e externas (fachadas); desempenho de pisos; e desempenho de sistemas hidrossanitários (opcional).
São esses os termos que Teddy emprega para falar dos principais pontos a serem avaliados antes de comprar ou alugar um imóvel e que são úteis para organizar, mentalmente, os tipos de ruídos com os quais um morador de apartamento precisa lidar.
Ouvir o vizinho barulhento do andar de cima, por exemplo? É um problema de desempenho de piso. Já ouvir os aviões é um problema de desempenho de paredes externas.
“Paredes e pisos são difíceis de avaliar em uma visita porque você depende de acesso aos apartamentos vizinhos, tanto acima quanto ao lado, para verificar o isolamento acústico”, explica ele.
Já as janelas que fazem parte da fachada podem (e devem) ser avaliadas na primeira visita. “Caixilhos de correr têm desempenho inferior aos caixilhos de abrir, o que pode ser um problema dependendo da região em que se mora”, fala. Caso a janela externa tenha persianas metálicas integradas ao caixilho, isso é um ponto positivo e pode acrescentar 5 decibéis no desempenho total do isolamento acústico.
Outra coisa a ser verificada são as potenciais frestas. “Cada milímetro de fresta faz uma diferença muito grande no isolamento das janelas: exija do proprietário ou incorporador que o caixilho seja muito bem instalado, esteja alinhado e com menor vão possível“, finaliza.
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