As arquitetas Anike Tomanik e Kalyn Diegues tinham experiência com design de interiores quando a maternidade indicou um novo caminho, intimamente ligado à necessidade de mães e pais: criar uma brinquedoteca, ou seja, um espaço de brincadeira específico para crianças em casa e que fosse funcional, confortável e bonito.
Dessa necessidade nasceram diversos projetos de brinquedotecas que, além de lúdicos, também combinam com os demais ambientes do lar. “Ninguém quer ter uma brinquedoteca com cara de buffet infantil na sala de estar, né?”, brinca Anike.
O escritório das arquitetas, batizado de Lá na Teka, acabou se especializando na produção de espaços infantis charmosos, que não comprometem o design de interiores e que resolvem o drama dos brinquedos espalhados pela casa, uma demanda de diversas famílias.
“Achamos importante que este espaço seja muito bem projetado para que converse com o restante da casa, atentando aos acabamentos, cores, texturas e até na escolha correta dos brinquedos”, recomenda Kalyn.
As arquitetas contam que é comum serem procuradas por famílias que tentaram montar um espaço só para crianças em casa, mas que acabou virando “um elefante branco na sala” – esteticamente estranho ou disfuncional.
Onde montar a brinquedoteca
Não é preciso grandes metragens ou cômodos sobrando para criar um espaço infantil onde cada coisa terá o seu lugar, afirmam as especialistas em decoração. “Pode ser aquele cantinho que não tem muita finalidade, um setor dentro do quarto da criança, ou um corredor mais largo, um quarto de hóspede, um escritório ou uma varanda”, sugere Kalyn.
“Usamos um corredor de uma casa para fazer uma casinha, com mezanino, escada e escorregador. Sempre é possível aproveitar esses espaços perdidos”, lembra Anike. “Quando há um quarto de empregada reversível para a área social do apartamento, aproveitamos para criar a área kids. Aquele espaço embaixo da escada, nos apartamentos duplex ou em casa, também é uma ótima saída”, aconselha a arquiteta.
As varandas dos apartamentos mais modernos, que estão cada vez maiores, são ótimos espaços para abrigar a brinquedoteca, precisando apenas de pequenas intervenções. “Na maioria dos prédios é permitido o fechamento de vidro, então fica um espaço perfeito para criar uma brinquedoteca, com claridade, integração com o restante da família e ao mesmo tempo uma setorização”, explica Anike. Importante também que as janelas tenham grades ou redes de proteção sempre, principalmente se a varanda for ser transformada em “varandoteca”.
“Tem varandinhas bem pequenas, integradas a quartos, por exemplo, que são fáceis de serem incorporadas. Às vezes é possível derrubar uma parte da parede e incorporar a varanda ao espaço, colocando ali um cantinho de brincadeira”, defende Anike.
Os projetos para as brinquedotecas podem ser simples ou sofisticados. Tudo vai depender da necessidade e orçamento de cada família. “É importante saber do que a família está disposta a abrir mão para ter esse espaço kids, o quanto ela quer que isso combine com o restante da casa, se os pais querem a criança próxima para ficar de olho nela o tempo todo, se esse espaço estará integrado à área social do apartamento, ou se querem um espaço separado”, diz Kalyn.
O que não pode faltar numa brinquedoteca
Móveis que ajudem na organização, pisos que tragam conforto térmico e objetos que aguçam a criatividade e permitam autonomia são imprescindíveis na hora de criar esses ambientes, segundo as arquitetas. “Não adianta você criar um espaço lindo, mas que não tenha um piso quentinho, por exemplo, pra criança ficar no chão. Vai virar apenas um espaço para guardar brinquedo, mas não para diversão”, alerta Kalyn.
Por isso, investir em revestimentos confortáveis no chão, principalmente nos tapetes, é um bom início. “Existem muitas opções de tapetes bacanas, com tecidos como algodão, que são fáceis de lavar, assim como os playmats – um tapete de borracha flexível coberto por tecido de poliéster -, que são lúdicos, coloridos, divertidos e podem ajudar na brincadeira, além de serem também de fácil limpeza”, sugere Anike.
Para trazer mais diversão é possível incluir neste espaço elementos que orbitam o imaginário infantil como casinhas, balanços, escorregador, lousas e o que mais estiver ligado ao lúdico. A escolha das peças vai depender do espaço que se tem e dos desejos e características de cada criança.
“Costumamos entrevistar a criança, quando maiorzinha, para entender o que ela deseja. Tem criança que é mais ativa, mais esportiva, então usamos cordas, parede de escalada, quando o espaço permite. Tem criança que gosta mais de jogos, ou é mais calma e prefere um espaço de leitura”, explica Anike. “Já as crianças pequenas costumam se encantar com uma mini-cozinha e a bancada de ferramentas. Brincar de gente grande é bem legal.”
Outra peça queridinha das crianças é a casinha de brincar. “Quando temos algum espaço, construímos uma casinha em marcenaria, com acessórios para brincar nela”, explica Kalyn.
Quando não há metragem suficiente, mas um pé-direito alto, é possível construir casinhas mais compactas e com dois pisos, adicionando escadas e até escorregadores.
“Podemos fazer também apenas uma referência à casinha, com uma divisão em marcenaria, um painel cenográfico ou papel de parede, criando uma atmosfera que lembra uma casinha”, completa Kalyn.
Tendas e cabanas de tecido ou até mesmo uma estrutura de madeira em formato de telhado são facilmente encontradas em lojas especializadas e podem compor este espaço lúdico. Almofadas, futons e pufes também são bem vindos para dar mais aconchego, assim como as cortinas e as telas solares (no caso das varandas envidraçadas).
Acessibilidade e segurança
É fundamental que o espaço infantil tenha mobiliário adequado ao tamanho das crianças, como mesas e cadeiras específicas para elas, fornecendo autonomia.
Caixas organizadoras, gavetas e prateleiras que contenham brinquedos precisam estar ao alcance das crianças, com sistemas de abertura e fechamento simples, próprio para os pequenos.
Os móveis devem ter pontas arredondadas e serem firmes para evitar quedas e acidentes. “Tem que ser uma marcenaria segura. E, no caso das crianças pequenas, também precisam ser fáceis de manusear, sem ajuda de um adulto”, destaca Kalyn. ”A tampa de um baú, por exemplo, não pode ser pesada, tem que ter uma ferragem certa, gavetas podem ter uma trava para não voltar na mão”, alerta a arquiteta.
Como trazer sofisticação para o espaço kids
As arquitetas Anike Tomanik e Kalyn Diegues defendem o uso de uma base neutra para o design dos espaços kids, deixando o colorido para os brinquedos e outros objetos de decoração.
Uma boa dica para que o local não fique datado é deixar os personagens de animações ou temas específicos para os objetos decorativos, que podem ser trocados à medida que a criança cresce e muda de gosto.
“Gostamos de trazer materiais que usamos na decoração de ambientes adultos, como fibras naturais, madeira e outros elementos que remetem à natureza, mesmo de forma indireta. Pode ser um painel ou papel de parede. Eles trazem conforto, tranquilidade e um ar de sofisticação para o espaço”, conta Anika.
“Uma brinquedoteca bem pensada e projetada como parte integrante da casa adiciona charme ao ambiente”, diz Anike. “Se você trocar algumas peças, mudar detalhes, esse local pode se transformar num cômodo juvenil. E fica fácil também dar outra finalidade para aquele espaço quando a brinquedoteca não for mais necessária.”
Colaboração de Marcela Guimarães
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