As crianças devem ter liberdade nos ambientes, onde móveis precisam estar dispostos sob medida para serem usados sem a ajuda de um adulto. O pensamento básico do método montessori, aplicado há anos na educação infantil, acabou influenciando designers e arquitetos que passaram a usá-lo na decoração, criando quartos montessoriano.
O que é quarto montessoriano?
“O método que leva o nome da criadora, a médica, pedagoga e educadora italiana Maria Montessori, foi desenvolvido para dar mais autonomia às crianças e ajudá-las a se desenvolver”, explica a arquiteta Monike Lafuente, do Studio Tan-Gram.
Brinquedos e livros devem estar ao alcance das crianças, assim como materiais que ofereçam texturas diferentes, para que possam explorar as possibilidades, estimulando a iniciativa e a criatividade, sendo a essência de um projeto montessoriano.
Assim como em qualquer projeto de arquitetura, um quarto infantil deve ser pensado adequadamente para quem irá ocupá-lo. E a proposta montessoriana coloca a criança no centro do projeto. “Acredito que a filosofia montessoriana aplicada aos espaços tem um olhar muito cuidadoso e generoso, colocando no centro a percepção da criança sobre o mundo e suas necessidades”, ressalta a mãe e arquiteta Jéssica Ruy, que aplicou a filosofia no quarto da filha Catarina.
Camas montessorianas
A proposta se popularizou quando lojas de móveis começaram a lançar as camas montessorianas, mais baixas, no formato de casinhas ou cabanas. “Nas buscas do Pinterest ou nas lojas de decoração para bebê, vemos uma associação direta da filosofia montessoriana à cama infantil. Mas, na verdade, a proposta é muito mais simples do que ter um mobiliário adaptado. É proporcionar condições para que a criança, desde muito cedo, possa se virar sozinha”, avalia a arquiteta Monike Lafuente, que também é mãe de um bebê.
As peças e mobiliário infantil pensados para quarto montessoriano fazem sucesso porque facilitam o dia a dia, dando funcionalidade e beleza ao décor. A cama casinha, por exemplo, além de ser lúdica, serve para que as crianças possam se pendurar quando forem maiorzinhas, usar como uma casinha de bonecas etc.
Seguindo a proposta de móveis adaptados, é possível encontrar armários de roupas com fácil acesso, caixas organizadoras com rodízios, mesas e cadeiras pequenas, prateleiras e cabideiros na altura das mãozinhas das crianças.
Antes de sair copiando imagens do Pinterest, é importante entender: o quarto montessoriano é voltado para os filhos, e não para os pais. “Eu prefiro que a proposta de montar um quarto dentro da filosofia venha da família, porque está ligada diretamente à forma como eles querem criar a criança”, avalia Monike.
Como montar um quarto montessoriano?
Praticidade, conforto, segurança e diversão. Partindo desses requisitos, é possível criar quartos dos mais simples aos mais sofisticados, seguindo o método montessoriano.
Monike Lafuente aconselha que o quarto tenha a menor quantidade possível de móveis, para que a criança encontre espaço no chão e possa explorá-lo. É interessante, também, criar um ambiente que estimule visão, tato, equilíbrio e a curiosidade.
Brinquedos educativos, de madeira, papelão, tecido e peças de montar coloridas, ajudam a estimular os sentidos. “Dentro da proposta montessoriana, cada brincadeira é uma tarefa, com princípio, meio e fim, para que a criança brinque, complete o processo de montagem e desmontagem, e depois guarde”, explica Monike.
“O ideal é deixar poucos brinquedos expostos, para que a criança não se perca… Ela monta uma torre de blocos, por exemplo, desmonta e devolve todas as peças ao lugar certo. Se houver muitas peças, a criança pode se desorganizar”, acrescenta.
Deixar brinquedos em cestos flexíveis ou caixas no chão facilita esse processo de organização. Desde muito cedo, ainda ao engatinhar, o bebê saberá onde está o brinquedo, pode pegá-lo e depois guardá-lo.
Monike considera o tapete um item indispensável num quarto infantil montessoriano. “Existem alguns modelos mais práticos, que sujam menos e são mais fáceis de limpar. Dão conforto visual e térmico, ajudam a amortecer a queda da criança que começa a andar e também diminui o barulho dos brinquedos que são arremessados pelos bebês. Assim você também evita barulho excessivo para seus vizinhos”.
O espelho colocado na altura da criança também é um item importante para compor um quarto montessoriano. “Contribui bastante para o desenvolvimento natural do bebê porque ele começa a se olhar e se reconhecer. Ele brinca com a imagem dele mesmo”, diz a arquiteta.
Para evitar acidentes, o espelho deve estar bem fixado na parede, sem riscos de queda. “O mercado tem oferecido uma solução de segurança interessante para esses espelhos, que é colocar uma barra de madeira na frente. Ela limita um pouco o acesso, mas serve para a criança se apoiar e levantar, quando está nesta fase”, lembra Monike
Outro ponto interessante em um quarto montessoriano é o cantinho para leitura. Você pode colocar prateleiras baixas, estimulando a autonomia também no momento de escolha do livro.
“Isso também estimula a criança na fase da alfabetização, ou mesmo antes dela”, cita a arquiteta. Mesmo ainda muito pequenas, as crianças se divertem com as imagens dos livros, as texturas, aprendem a virar as páginas e vão se familiarizando com este universo.
As paredes do quarto podem conter estímulos coloridos, com formatos geométricos e até espaço para desenhar. Essas lousas podem ser feitas com tinta específica ou adesivos para giz, oferecendo aos pequenos espaço criativo para desenhos fora do papel.
Berço, cama ou colchão no chão do quarto montessoriano?
Quando a proposta montessoriana compõe o quarto de um bebê recém-nascido, o ideal é colocar um colchão no chão, antes de adicionar uma caminha baixa, para garantir a segurança da criança.
“Se a mãe ou pai não quiser colocar o filho num berço, por achar que ele prende o bebê, podem colocar num colchão no chão, protegido por almofadas”, explica Monike Lafuente. “Enquanto a criança não anda, ela pode cair, então deixar esse colchão rente ao chão, além de seguro, facilita para que ela possa sair e voltar pra cama – quando estiver na fase de rolar e engatinhar – explorar o quarto, acessar os brinquedos, sem ajuda de um adulto”, diz.
Por baixo deste colchão pode haver um estrado de madeira ou apenas um revestimento como o EVA. “Existem revestimentos, por exemplo, que você pode adicionar nas paredes encostadas a essa cama-colchão, que ajudam a dar um conforto térmico. São soluções simples”, enfatiza a arquiteta.
Faça uma transição do quarto tradicional para a proposta montessoriana
Colocar um bebê recém-nascido em um colchão ou uma caminha próxima ao chão pode não ser prático para algumas as mães na hora de pegá-lo para amamentar, trocar fralda e acolher no momento do choro. Usar um berço não significa “burlar” a proposta montessoriana. “É importante pensar em todas essas questões para não frustrar ninguém”, recomenda Monike.
Em casos assim, os pais podem optar por um bercinho “moisés”, que depois será retirado do quarto. Ou usar berços que se transformam em camas baixas quando o bebê estiver maiorzinho.
A mesma situação pode acontecer com a cômoda que serve como trocador. “É um móvel que os pais usam muito e não tem a ver com a proposta montessoriana, mas pode ser adaptada ou retirada depois”, sugere a arquiteta. “É só alinhar o quanto de autonomia os pais querem dar para a criança e se aquela proposta é prática para eles”.
Neste caso, os armários ou guarda-roupas também podem sofrer pequenas alterações e “crescer com a criança”, com pequenas alterações. “Você pode deixar os calceiros – que costuma ficar na parte inferior – para colocar os cabides de roupas na altura das crianças. Os puxadores também podem ser deslocados para baixo, assim elas conseguem abrir e fechar sem precisar de ajuda”, diz Monika.
Jéssica Ruy decidiu fazer a transição de um quarto de bebê – com layout focado no recém-nascido – para um projeto com pegada montessoriana, quando a filha Catarina ficou maiorzinha. “Minha filha tinha um quarto tradicional, com berço, e por volta dos 3 anos fizemos essa transformação, porque tinha mais sentido para aquela fase do desenvolvimento dela”, conta.
No novo quarto, a cama baixa ganhou formato de casinha, com tecido no telhado e cordão de pompons para trazer mais cor e textura. Uma escrivaninha foi projetada com marcenaria na altura de Catarina, adicionando uma cadeira infantil. Caixas com puxadores ajudam na organização dos brinquedos. No centro, foi colocado um tapete de EVA que complementa a brincadeira no chão, trazendo mais conforto térmico.
Passo a passo para ter um quarto infantil montessoriano
Agora que você entendeu a filosofia e leu as dicas das arquitetas, preparamos uma listinha para não se perder e pensar em um projeto que faça sentido para sua família:
- Crie um espaço com objetos essenciais para estimular a criança. Lembre que as peças devem estar à altura dos olhos e das mãos dos pequenos, sem excessos.
- Colchão no chão ou cama baixinha são importantes para a autonomia da criança. Se preferir um berço nos primeiros anos do bebê, faça uma transição para um espaço mais próximo ao chão, confortável e seguro.
- Estimule a autonomia usando cestos ou caixas para guardar os brinquedos com fácil acesso, assim como guarda-roupas e estantes de livros.
- Explore texturas, cores, paredes, revestimentos, espelhos. Lembre que a proposta montessoriana pretende estimular o desenvolvimento natural da criança a partir de suas próprias experiências.
Colaboração de Marcela Guimarães
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