Considerado o maior apartamento do Rio de Janeiro (e um dos maiores do mundo), o apartamento mais caro do Rio de Janeiro está localizado no bairro do Flamengo, na Zonal Sul carioca. Avaliada em R$ 65 milhões, a cobertura que pertenceu à tradicional família Guinle e já foi cenário de novela, tem quase 4 mil metros quadrados, jardim suspenso com piscina, cinco quartos, quatro andares, saunas, spa, biblioteca, salas de jogos, obras de arte por todos os cantos e uma escadaria majestosa. O apartamento foi projetado na década de 30 pelo mesmo arquiteto que fez o Copacabana Palace, o francês Joseph Gire, e é considerado pelos especialistas uma exaltação ao período art déco.
Segundo a arquiteta e urbanista Ane Calixto, sócia proprietária da Arquitetura Resolve, o super apartamento tem pé direito altíssimo, é um luxo com vista deslumbrante para o Aterro do Flamengo e o Pão de Açúcar. A construção reflete a paixão pelo Rio, é uma reverência ao glamour do século passado.
Para quem gostou da possibilidade de se sentir de volta ao passado, mas não pensa em investir tão alto, os bairros do Flamengo, Copacabana, Catete e Glória, na Zona Sul do Rio, são expoentes de relíquias arquitetônicas. E (bem) mais acessíveis. Segundo Ane, a busca por apartamentos com pé direito alto, plantas generosas, paredes espessas e construções em estilo moderno ou art déco cresceu nos últimos anos e ocupa lugar de destaque na preferência de famílias que precisam de mais espaço e não querem abrir mão da elegância na hora de adquirir um imóvel.
“Um apartamento antigo reformado é uma jóia. Ele conta com toda a funcionalidade de um novo, numa planta mais ampla e com personalidade. Quem busca um imóvel deste estilo é um entusiasta da arte, do que é belo. Estes apartamentos costumam ter materiais mais nobres em suas construções, piso de parquet, madeira maciça, mármore e há clientes que querem preservar cada detalhe”, explicou a Ane Calixto.
Preservação dos bairros
Tradicionalmente, os imóveis antigos estão situados em locais já consolidados, próximos a comércios, escolas, restaurantes e a maioria é perto da praia. Há ainda o vínculo emocional com os bairros, o que estreita os laços entre moradores e suas memórias e incentiva a preservação. Ane comenta que, quando acontece a demolição de uma casa histórica, mesmo que tudo esteja sendo feito dentro da legalidade, há uma enorme comoção popular. As pessoas lutam para evitar a descaracterização de seus bairros. A arquiteta ainda afirma que possui clientes que buscam apartamentos ou casas antigas, mesmo que existam dívidas de IPTU, para restaurar suas características originais porque querem morar exclusivamente naquela região.
Quais as vantagens de morar num imóvel antigo?
Segundo Ane Calixto, a estrutura dos imóveis antigos é diferenciada. A começar pelo pé direito de pelo menos 3,0 metros, a espessura das paredes, localização privilegiada, estrutura ampla, conforto acústico, térmico e ventilação cruzada, o que favorece a circulação de ar dentro do imóvel. Outro ponto de destaque citado é a maior facilidade para a realização de arquitetura inclusiva.
Antigamente, a estrutura dos ambientes dava maior ênfase à parte de serviços da casa, ou seja, cozinhas maiores, dois quartos de serviço, lavanderia, copa. Agora é possível aproveitar este layout robusto para adaptar conforme a necessidade do morador, utilizando estes cômodos para despensa, espaço de home office e mesmo a acessibilidade, uma vez que os banheiros e corredores são bem amplos, explica.
Por que os apartamentos no Rio são tão caros?
Além da arquitetura diferenciada, a localização dos imóveis também é aliada dos altos preços. Segundo o arquiteto e urbanista Rogério Cardeman, a Zona Sul carioca, construída entre o mar e a montanha, está praticamente tomada e muitos dos imóveis estão protegidos pelas chamadas Área de Proteção do Ambiente Cultural (APAC), o instrumento municipal utilizado para preservar patrimônios edificados e a ambiência urbana. Atualmente, de acordo com dados da Prefeitura do Rio, são 36 áreas urbanas protegidas na cidade, entre APACs e áreas de proteção de entorno de bens tombados e que incluem cerca de 30 mil imóveis.
O certo, afirma o urbanista, seria termos um Plano Diretor que considerasse núcleos de ocupação por toda a cidade, principalmente em áreas já atendidas por eixos de transporte, como a Zona Norte. Mas o que temos hoje é a Zona Sul como foco, com infraestrutura completa e imóveis preservados pela APAC. Ou seja, nunca será possível alcançar o potencial construtivo da região, o que vai sempre aumentar o valor dos imóveis já existentes. Muita demanda e pouco estoque, explica.
Vale a pena mudar a estrutura de um apartamento antigo?
Mas há quem prefira deixar as memórias só na fachada. Para a arquiteta Gabriela Campos, sócia proprietária do Mais Alma Arquitetura, as transformações culturais influenciam diretamente no formato das casas. A cozinha deixa de ser um cômodo separado e passa a ser integrada com a sala. Deixamos de usar acesso de serviço, este espaço passa a ser considerado no layout do ambiente, exemplifica a arquiteta.
No caso de mudanças mais radicais, as obras nas construções antigas são possíveis, mas esbarram em alguns empecilhos: bacia sanitária e os ralos. Ou seja, é mais difícil mudar banheiros e cozinha de lugar. Gabriela Campos pondera que, se há uma expectativa de grande modificação no ambiente, pode ser mais trabalhoso executar, uma vez que esses apartamentos antigos não contam com o entreforro na parte de baixo (área livre utilizada para manutenção).
Apartamentos antigos mais valorizados
Segundo ela, os imóveis antigos estão em forte tendência de valorização, uma vez que as empresas de construção seguem entregando moradias cada vez mais compactas. As construtoras estão indo para o oposto do que encontramos nos apartamentos antigos: pé direito cada vez mais baixo e espaços reduzidos. Isso justifica o aumento na demanda. De fato, os apartamentos antigos oferecem um conforto muito maior, justifica Gabriela.
Apesar de a Zona Sul do Rio concentrar o maior número de imóveis antigos, Gabriela afirma que é possível encontrar este perfil de imóvel em todos os bairros da cidade. Ela orienta que, para uma família que está buscando por um local com mais espaço e pode investir numa revitalização, comprar um apartamento antigo é o melhor dos mundos.
Vai comprar um imóvel antigo? Confira estas dicas antes de se mudar:
- Verifique o estado das tubulações de água, esgoto e de gás. Tubulações de cobre oxidam e são mais passíveis de vazamento;
- Se o aquecedor de gás estiver dentro do banheiro, faça a mudança o quanto antes para garantir a segurança dos moradores. Há risco de intoxicação por monóxido de carbono;
- Observe a existência de cupins;
- No caso de coberturas, atenção aos acréscimos irregulares de área construída.
Colaboração de Mariana Jucá
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