A brisa do mar, o barulho das ondas e até um clima mais despojado são algumas das ideias que vêm à mente quando se pensa em imóveis localizados perto da praia. Apesar de essas serem vantagens atraentes para muitas pessoas, morar à beira-mar também apresenta desafios.
“Além do salitre, esses são locais onde costuma chover e ventar mais, têm maior incidência solar e onde pode fazer calor durante longos períodos de tempo. Essas também são regiões que muitas vezes ficam próximas a matas ou áreas verdes, o que aumenta a chance de aparecerem mosquitos e até animais silvestres”, explica Gustavo Argollo, arquiteto especialista em construções sustentáveis.
Muitos insetos utilizam a água parada para a reprodução, então é importante estar sempre atento às superfícies onde pode acontecer o acúmulo, especialmente nos períodos de chuvas e quando a casa não estiver sendo utilizada. Como nem todo vizinho tem o mesmo cuidado e os mosquitos não costumam respeitar cercas, uma opção para evitar o contato é criar uma barreira física entre a sua casa e o habitat deles. Para isso, basta instalar telas finas, que funcionam como bastidores em toda a moldura das janelas. Elas impedem a passagem de insetos sem comprometer a incidência solar dos ambientes e são feitas sob medida por empresas especializadas.
Muitos desses elementos terminam condicionando as escolhas dos projetos arquitetônicos. “A arquitetura tem que estar sempre se adequando ao ambiente no qual está inserida, e no ambiente à beira-mar não podia ser diferente”, explica Gustavo. O arquiteto, que tem muitos projetos em cidades litorâneas, destaca algumas características que considera importantes para lidar bem com este tipo de localização.
Ventilação pode ser aliada
“É importante pensar em grandes beirais, para amenizar a incidência da chuva. Também é preciso ter grandes vãos de esquadrias, para ventilar bem o ambiente e trazer bastante iluminação para dentro de casa. Outro recurso interessante é tentar integrar o ambiente interno com o externo, ajudando na ventilação, mas de uma maneira que não seja uma ventilação permanente, prevendo os períodos com mais vento. No caso de uma fachada voltada para o poente, é importante criar um elemento de fechamento, para diminuir os efeitos do sol”, orienta.
Cuidados com a conservação
Para quem mora em imóveis à beira-mar, os cuidados com a conservação das estruturas e, principalmente, dos aparelhos eletrônicos, passam a fazer parte da rotina. “A limpeza é importante para que o salitre não se acumule e corroa ou danifique os materiais rapidamente”, afirma a aposentada Creusa Araújo, que mora, há seis anos, num imóvel em frente à praia, em Salvador. Para esta limpeza, é recomendado usar um pano úmido com sabão neutro e, o mais importante, não deixar o salitre acumular. Ou seja, não deixe esta limpeza apenas para os dias de faxina pesada, incorpore ela na rotina.
“Pra mim, essa é a principal dica para quem deseja residir à beira-mar: ter consciência de que a limpeza e manutenção constantes são necessárias para prolongar a vida útil dos aparelhos. E saber que, ainda assim, é possível que eles tenham uma vida útil um pouco menor do que numa cidade localizada em uma região mais seca”, destaca. No caso dos aparelhos eletrônicos, além da limpeza com um pano seco, também é recomendado cobrí-los com capas protetoras. Outra dica é, sempre que possível, deixar os aparelhos em modo stand by, já que o calor gerado pelo próprio aparelho ajuda a combater os efeitos da maresia. Mas lembre-se que este modo também consome energia.
Mas o que é o salitre e por que exige tantos cuidados?
O salitre, ou maresia, é aquela névoa úmida, muito comum em cidades litorâneas. Formada por gotículas de água do mar que sobem quando as ondas arrebentam, ele é o grande vilão para quem tenta conservar imóveis à beira-mar. “Um dos problemas mais frequentes é a corrosão das superfícies metálicas, mas a maresia também pode causar danos em estruturas de concreto, paredes, telhados e madeira”, afirma José Ricardo Pereira, técnico de manutenção.
Atuando no Rio de Janeiro há mais de 10 anos, Ricardo dá algumas dicas sobre a periodicidade da manutenção de imóveis que têm o privilégio da vista-mar, mas também sofrem com as altas taxas de salinidade. “O ideal é que a manutenção seja feita pelo menos uma vez ao ano, preferencialmente duas vezes. Outra dica importante é deixar os cômodos sempre arejados e iluminados”, destaca.
Como escolher os materiais para uma casa à beira mar
A escolha dos materiais certos também pode ser de grande importância para ter mais durabilidade e uma manutenção residencial mais fácil. “Na escolha dos materiais, eu costumo recomendar que se priorize o uso de madeira, coberturas de telhas cerâmicas e revestimentos de pedra”, destaca Gustavo. “O vidro também é um material interessante nesses locais porque, além da durabilidade, ainda contribui trazendo transparência e mais luz pros ambientes”, finaliza.
Além da preocupação com a conservação, a escolha dos materiais também pode contribuir para uma decoração que converse com o entorno. “Imóveis litorâneos muitas vezes trazem elementos naturais, como madeira, palha, tijolinho e pedras naturais. Isso dá vida e um toque de aconchego que combina bem com a proximidade com a praia, além de serem materiais que costumam resistir melhor ao clima dessas regiões. “, explica.
Também existem no mercado diversas linhas de móveis para praia específicos para essas condições. Como os móveis que reproduzem a estética das fibras naturais, mas que na verdade são produzidos com fibras sintéticas. Muitos deles são resistentes à água e à maresia e podem inclusive ser deixados em áreas externas sem nenhum tipo de proteção.
Apesar dos cuidados e da atenção com a manutenção, morar na praia continua sendo um atrativo para muitas pessoas. “É maravilhoso acordar e ver a beleza estonteante do mar azul à sua frente, ter a oportunidade de ver o pôr do sol de cores vibrantes. São vantagens que superam de longe os cuidados que o imóvel demanda”, afirma Creusa.
Colaboração de Michele Louvores
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