“Era pelo menos três vezes maior que nosso quarto, com muita luz e uma parede com cerca de cem pregos protuberantes.” Essa é a descrição que a música Patti Smith faz de seu primeiro loft no Chelsea, em seu livro de memórias Só Garotos. Ela estava em Nova York nos anos 1960.
Hoje um bairro nobre da cidade, o Chelsea era então uma região à margem da riqueza, cheia de galpões e fábricas abandonados, onde artistas moravam pagando pouco. Ali, criavam uma vida nos lofts (nome para um tipo de espaço originalmente para armazenamento) e decoravam como podiam. Surgia a semente da decoração industrial.
De tão popular que tornou, você provavelmente reconhece um desses tipos de decoração: tijolos, vigas e canos expostos, pisos e paredes de cimento queimado e espaços amplos e integrados, frequentemente com divisões apenas para banheiros.
O que era uma necessidade na época se tornou uma tendência longeva, que mistura móveis funcionais, linhas retas e toques rústicos através de materiais como concreto, madeira, metal e couro. E não há restrições para sua aplicação: uma decoração desse tipo pode ser aplicada em qualquer planta.
O que é decoração estilo industrial?
A decoração em estilo industrial, como já mencionamos, começou quando fábricas, confecções e armazéns se tornaram novas maneiras de habitar em Nova York, onde o custo de vida era alto. No começo por falta de dinheiro e depois por gosto, a estrutura ficava evidente.
“O que mais caracteriza esse estilo é a questão da aparência rústica e a ideia de espaços inacabados que foram ocupados”, resume Karla Oliveira, designer de interiores. Às vezes chamado de industrial chic, o estilo transformou-se em um filão de mercado, que oferece inúmeras peças com aparência de desgaste.
“Às vezes o cliente já tem uma peça específica que quer aproveitar e eu penso no que fazer com aquilo e como transformá-lo”, continua Karla, citando a reutilização de uma porta como tampo de mesa.
Mas ela avisa: só pintar tudo de cinza e mudar o piso pode não ter o efeito desejado. “Não é só descascar a parede: é preciso saber o que fazer em cada local”, fala. “Não pode ficar com cara de inacabado. Se não for assim, ao invés de industrial, fica desleixado.”
Por isso, ela prefere visitar os espaços em pessoa para entender luz, proporção e onde os toques funcionam. “Um lugar pequeno todo descascado vai ficar deprimente”, aponta.
Mas Precisa derrubar as paredes?
Por serem concebidos para outro fim, os lofts originais que utilizavam decoração estilo industrial não tinham separação alguma entre cômodos. Não é preciso ir tão longe: ao combinar matérias-primas brutas com opções minimalistas e clean, já se traz um pouco desse espírito fabril.
Outro ponto importante é que, na decoração industrial, o vazio importa. Caso você prefira uma casa com menos móveis e objetos de maneira geral, mais funcional e menos apinhada, considere esse estilo.
Paleta de cores da decoração industrial
A paleta de cores é majoritariamente neutra e se inspira nos tons dos elementos estruturais de uma casa. Há muito branco, cinza e preto em tudo, de esquadrias a portas e paredes. Eventualmente, é possível utilizar também tons terrosos, verdes e beges.
Materiais mais usados
Para que o ambiente siga de olho em sua referência original (as fábricas e galpões do século 19 e início do século 20), invista em metais, concreto e pedras como mármore e granito.
Vidros e espelhos complementam o ambiente e a madeira rústica adiciona uma dose bem-vinda de textura. Evite superfícies lustrosas ou acabamentos brilhantes.
Tais materiais típicos da decoração industrial podem aparecer em todos os cantos: o ferro, por exemplo, pode estar na base da mesa e no pendente da luminária. Quanto maior a aparência de rústica ou usada, melhor.
Na hora de escolher o piso, é possível optar pelo concreto (polido, mate ou com aquele ar de inacabado) ou madeira, caso queira um ambiente mais visualmente aconchegante. Muitos desses materiais também podem ser aproveitados nas paredes, balcões, prateleiras e nichos.
Caso você tenha uma parede de tijolos expostos, ótimo: pode optar por pintá-los em cores neutras (o branco é um grande favorito) ou deixá-los em sua cor natural. Para arrematar, adicione aconchego ao ambiente com couro, almofadas, mantas e tapetes em tecidos diversos.
Detalhes que fazem a diferença
A decoração industrial é primordialmente “crua”. Foque na forma e na função do mobiliário, dê preferência a linhas retas e simplicidade sempre que possível.
Ainda assim, sobra muito espaço para colocar quem você é, e toques de outras cores não são proibidos. A decoração com móveis antigos (sejam eles heranças de família ou achados de feirinhas de antiguidade) cabe perfeitamente nesses ambientes.
Plantas verdes como palmeiras, bambus, costelas-de-adão e ficus também oferecem toques de cor muito interessantes. Permite que elas cresçam como quiserem e você terá ainda mais personalidade em seu espaço.
Quando se trata de iluminar os espaços, prefira luminárias minimalistas, como fios que terminam direto nas lâmpadas. peças que imitam canos de tubulação ou que utilizem cimento e madeira em suas bases.
Como criar uma casa estilo industrial
Comprar (mais e mais) nunca foi tão fácil. Com alguns toques no teclado, você encontra exatamente o que quer, mesmo que esteja hoje a um oceano de distância, e pode encomendar para daqui uma semana – e ainda parcelar o gasto.
Toda essa abundância gerou uma resposta, que é a busca por simplicidade. A casa estilo industrial oferece um pouco desse espírito mais puro e menos tumultuado e, em tempos de imóveis cada vez menores, traz a oportunidade de maximizar o espaço em si.
Aqui, um suporte para bicicletas deixa de ser uma comodidade para se tornar um detalhe da decoração, assim como a própria parede ganha com a bicicleta pendurada. Ao mesmo tempo, é possível literalmente descascar e quebrar as paredes para deixar as tubulações expostas.
Confira abaixo pontos de atenção e conselhos para diversos cômodos da sua casa:
5 pontos para prestar atenção
- Iluminação estilo industrial: prefira lâmpadas expostas nos pendentes, cúpulas transparentes e detalhes em metal
- Paredes: se possível, deixe os elementos estruturais da casa expostos – incluindo canos, vigas e tijolos
- Reutilize materiais: aproveite o concreto em pisos, paredes e balcões
- Dê toques de cor: o verde das plantas e o marrom da madeira rústica são sempre bem-vindos
- Proteja os espaços vazios: foque na relevância de cada item de decoração e decida se ele realmente precisa estar lá
A cozinha estilo industrial
Para criar uma cozinha estilo industrial, integre-a sempre que possível ao restante da área de estar. A decoração industrial adora espaços amplos! Além disso, tente utilizar os mesmos materiais que aplicou no resto da casa nesse ambiente através de eletrodomésticos de aço, armários e nichos de madeira ou ferro e detalhes em metal (como banquetas e puxadores).
A sala estilo industrial
Tradicionalmente um ambiente de aconchego, aqui a sala estilo industrial não precisa perder sua identidade. É hora de equilibrar o minimalismo com bastante conforto: pense um sofá grande com almofadas, lâmpadas de chão de metal, poltronas com suporte de metal e tapetes de ar contemporâneo.
O quarto industrial
O quarto industrial também tem à sua disposição os elementos básicos para ser elegante e confortável ao mesmo tempo. Pense em cabeceiras e criados-mudos de metal ou madeira, almofadas em tons neutros, tapete felpudos e prateleiras feitas de metal preto. “As luminárias em estilo tubulação aparente também funcionam muito bem”, fala Karla Oliveira.
E o loft estilo industrial?
Agora você já sabe que o conceito do estilo industrial surgiu em Nova York há setenta anos, ganhando força nas décadas de 60 e 70. É dali que vem nossa ideia de loft estilo industrial: as grandes janelas, o pé direito alto e os elementos estruturais expostos. Originalmente, esse loft também não tinha banheiro ou água encanada – vale a pena lembrar que se tratava de um espaço industrial convertido em moradia com bastante criatividade.
Por serem muito amplos e não terem paredes, os lofts seguem visualmente impressionantes e parecem uma grande tela em branco. Eles são também relativamente raros: estima-se que hoje existam apenas 10% no mercado nova yorkino.