Nos últimos 70 anos, o Brasil vem passando por um profundo e contínuo processo de urbanização que trouxe grandes transformações para as características de ocupação dos territórios pelos brasileiros. Se em 1950 os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostravam que a população urbana do país representava apenas 36% do total, atualmente esse índice aponta que aproximadamente 85% dos brasileiros vivem em centros urbanos. As cidades se tornaram o centro da vida social e econômica do país, espaço das mobilizações, manifestações e oportunidades, atraindo e concentrando cada vez mais pessoas.
Para atender as demandas de uma população cada vez maior e mais diversa, as cidades foram se desenvolvendo como um organismo vivo que experimenta, evolui e se adapta às circunstâncias e necessidades. Uma característica marcante dessa evolução foi a verticalização dos grandes centros urbanos.
Cidades mais altas
O surgimento de prédios, edifícios e construções mudou profundamente o cotidiano e a paisagem urbana e possibilitou o desenvolvimento de centros de serviço que deslocaram o eixo dos empregos dentro das grandes cidades.
A verticalização urbana possibilitou a concentração de pessoas e de diversos serviços – como lojas, bancos, escolas, serviços públicos, mercados e restaurantes – em territórios menores e, consequentemente, fez com que esses centros de serviço se valorizassem, tornando essas áreas cada vez mais relevantes para a estrutura da cidade, e consolidando esses territórios como pólos geradores de emprego. Essa dinâmica ocorre até hoje nas cidades que se encontram em constante expansão.
Em São Paulo, uma das cidades mais verticalizadas do Brasil, esse movimento de crescimento de prédios se iniciou no centro histórico, na região da Sé, se ampliou para a Avenida Paulista e, posteriormente, atingiu áreas como a Avenida Faria Lima, o Itaim Bibi e a Marginal Pinheiros.
Mercado de trabalho
Hoje, de acordo com estudos do Departamento de Economia da USP, localidades com processos de verticalização um pouco mais recentes, como Itaim Bibi, Jardim Paulista, Santo Amaro e Vila Mariana, respondem por cerca de 19% dos empregos na cidade.
Isso acontece porque o avanço do emprego no bairro do Itaim Bibi, por exemplo, está fortemente relacionado com a construção da Avenida Faria Lima na década de 1970. Nas décadas seguintes, a região vai ganhando ainda mais relevância e os postos de trabalho avançando pela Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini.
Hoje, embora o emprego ainda continue espraiando para dentro da Zona Sul – especialmente em Santo Amaro e Socorro –, o distrito ainda é o mais relevante em termos de concentração de vagas de trabalho.
Esses constantes movimentos dos centros de emprego dentro das cidades também causam mudanças profundas nas regiões próximas a essas localidades, que se valorizam por se transformarem em pólos de moradia. A possibilidade de morar próximo ao local de trabalho e de centros de serviço funciona como importante critério de escolha por parte dos compradores de imóveis, que resulta em uma alta procura e na valorização desses territórios, tornando a verticalização um excelente caminho para atender a demanda e criar novas áreas de desenvolvimento.
Ainda em São Paulo, os bairros de Vila Mariana e Perdizes foram muito impactados com a consolidação do Itaim Bibi como importante centro de emprego da capital. Com a instalação de muitas empresas na região do Itaim Bibi, os bairros do seu entorno passaram a ser muito procurados pelos profissionais que atuam nesses novos empreendimentos e que contam com uma rede de transporte capaz de levá-los ao trabalho. Assim, Vila Mariana e Perdizes tornaram-se regiões muito procuradas para moradia, atingindo grande índice de valorização do seu território.
Apartamentos e casas
No Brasil, a verticalização é um símbolo de desenvolvimento e de riqueza de uma determinada cidade ou parte dela. Estudo publicado em 2021 pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM), da FAPESP, levantou que pela primeira vez em sua história, a capital paulista possui mais apartamentos do que casas.
Segundo o levantamento, nos últimos 20 anos o número de imóveis residenciais horizontais (casas) passou de 1,23 milhão para 1,37 milhão, um crescimento modesto. Já os imóveis residenciais verticais (apartamentos) quase dobraram: subiram de 767 mil em 2000, para 1,38 milhão em 2020.
Esse aumento no número de apartamentos foi causado por um significativo crescimento dos imóveis verticais de padrão médio e alto, apontando para uma melhoria na qualidade de moradia da população. O levantamento também mostra uma queda considerável no número de terrenos livres, sinalizando que a verticalização é um fator impulsionador de novos empreendimentos e de novos empregos dentro da cidade.
Se as dinâmicas que ocorrem dentro das cidades deslocam os centros de emprego ao longo do tempo e permitem o surgimento de novas zonas de desenvolvimento, fica claro que a verticalização é uma das principais consequências dessa evolução e que olharmos para cima parece uma boa forma de encararmos o futuro.
Leia mais sobre a relação entre verticalização e mercado de trabalho na cidade de São Paulo.