A quantidade de anúncios de apartamento studio chama a atenção de quem anda pelas ruas de São Paulo. Em uma caminhada pelos bairros paulistanos da Santa Cecília e República, na badalada Vila Madalena ou na residencial Perdizes, é fácil perceber que a solução arquitetônica domina a paisagem urbana e o mercado imobiliário, especialmente em áreas próximas de estações de metrô.
O que é apartamento studio?
Com o nome em inglês, mas por vezes também aportuguesado como “estúdio”, esses tipo de apartamentos são compactos, em torno de 30 m², costumam ter planta de fácil adaptação com ambientes integrados e localização privilegiada.
O termo e conceito surgiram nos EUA e na Europa entre os anos 1960 e 1970, transformando-se em uma grande tendência nas metrópoles, principalmente por causa de mudanças no zoneamento urbano.
Os studios são bastante populares em todo o mundo e conceitualmente bem parecidos com os lofts (apartamentos sem paredes internas e metragem variável). A diferença maior é o pé direito, que costuma ser mais baixo nos studios, além de contar com um condomínio mais requintado. Os prédios com apartamentos nesse conceito costumam oferecer comodidades com espaços de lazer e de convivência.
Os apartamentos studio podem ter paredes internas na divisão do banheiro e do quarto – costumam abrigar apenas um dormitório devido à metragem – e têm como principal conceito tirar da área privativa cômodos pouco utilizados no dia a dia, como área de serviço e escritório. “Esses espaços são oferecidos de maneira compartilhada nas áreas comuns dos condomínios, na maioria dos projetos”, conta Guz. Ele afirma que não existe metragem máxima para o conceito studio, mas que geralmente eles são imóveis com um único cômodo, podendo variar entre 18 m² e 50 m². Por trás do conceito está também a sua localização. “Estão em regiões centrais e estratégicas da cidade, onde existe uma boa infraestrutura de lazer, serviços e transporte público.”
Crescimento dos apartamentos studios
Um estudo recente realizado por engenheiros e arquitetos da Universidade de São Paulo, orientados pelo professor João Meyer, confirma que houve um boom de apartamentos pequenos (de até 45 m²), nos últimos anos, sobretudo em 2019: 25 empreendimentos foram construídos e entregues na capital paulista. Em 2018 tinham sido apenas 7. Em 2020, foram construídos mais 30 edifícios com essas características. No total, de 2016 a 2020, foram 64 edifícios com studios, dentro da característica “mistos”, ou seja, que integram unidades residenciais e não residenciais (escritórios, consultórios e outros).
Em São Paulo, as construções foram impulsionadas por um decreto de 2016 relacionado à Lei de Zoneamento, que permitiu classificar esses empreendimentos como não residenciais, mesmo quando funcionam como serviço de hospedagem ou moradia. Essa mudança deu às construtoras direito aos estímulos do Plano Diretor – de 2014 – que diminuem as taxas cobradas para construções de uso misto.
Apartamento studio é a evolução dos kitnets
Podemos dizer que os studios são uma evolução do antigo kitnet. Essa remodelação ganhou força no início de 2010, com o boom imobiliário em São Paulo, segundo Thomaz Guz.
“Diferentemente dos tradicionais kitnets, os studios geralmente não têm áreas de serviço dentro do apartamento. Esses empreendimentos costumam ter lavanderia coletiva, aproveitando as áreas completas e modernas dos prédios que estão situados”, explica.
Associado a conceitos como sustentabilidade e compartilhamento de espaços, o studio atrai principalmente os mais jovens, que buscam o primeiro imóvel para morar, e pequenos investidores em busca de uma renda extra.
Assim como a oferta, há grande demanda por studios. Segundo o último levantamento sobre o mercado imobiliário feito pelo Sindicato de Habitação de São Paulo (Secovi-SP), imóveis na faixa de 30 a 45 metros quadrados de área útil lideraram em todos os indicadores no mês de março de 2022: foram 3.568 unidades vendidas no mês, com valor de vendas atingindo um total de R$ 891,4 milhões.
“Em março, só em São Paulo, 3.193 unidades foram lançadas nas mais diferentes metragens. No entanto, os studios tiveram o maior percentual de vendas em relação ao total de apartamentos ofertados: 10,7%.”
Vantagens do apartamento studio
As principais vantagens de morar nos apartamentos studios estão relacionadas à comodidade e ao custo-benefício que a solução possibilita. Pelo tamanho compacto, os preços finais são mais competitivos e o inquilino ou proprietário consegue morar em regiões badaladas, perto de bons comércios, bares e restaurantes, com áreas comuns bem estruturadas e na rota dos transportes públicos, como estações de metrô, trens e corredores de ônibus.
Ter uma piscina, quadra, espaço gourmet para encontrar os amigos e fazer festas também ampliam as possibilidades de morar com qualidade e ter acesso a benefícios que só os condomínios de alto padrão – e mais caros – proporcionam.
“São perfeitos para pessoas solteiras que moram sozinhas ou casais jovens que passam boa parte do tempo fora de suas residências, prezam por flexibilidade de locomoção e funcionalidades no empreendimento”, diz Thomas Guz
É mais barato morar em um apartamento studio
Por serem menores, o valor dos studios também fica mais acessível. “Esses imóveis têm um ticket médio mais baixo que os demais, o que torna o produto mais acessível também para uma gama maior de investidores”, ressalta o CEO da Nomah.
Além disso, investidores mais qualificados podem diversificar na localização e nos tipos de imóveis. Ainda de acordo com Thomas Guz, em relação ao retorno do investidor, o apartamento studio permite um uso mais diversificado, podendo ser colocado à locação residencial ou de maneira temporária, como acontece nos imóveis do Airbnb e da Nomah.
“Este imóvel pode absorver demandas mais longas, acima de 30 dias, como também locações short stay, que são muito aderentes a apartamentos mais compactos”, cita Guz. “A combinação de locações flexíveis, aproveitando a alta demanda, faz com que os investimentos tenham um retorno acima da locação tradicional, que pode ser feita em outros ativos residenciais.” Os riscos também são baixos, já que a possibilidade de ficar sem inquilino é pequena.
Diferença entre apartamento studio, JK, loft e flat
Studio
Compacto – entre 30 e 45 m² – planta de fácil adaptação (com ou sem paredes internas), inclui espaços de lazer, de convivência e serviços no prédio, e localização privilegiada.
Kitnet
Entre 20 a 50 m², formado por quarto, banheiro e cozinha – que costuma incluir área de serviços – não oferece necessariamente lazer e espaços de serviços.
Loft
Sem paredes internas, pé-direito duplo, design industrial com instalações aparentes, a metragem pode variar bastante.
Os lofts também surgiram nos Estados Unidos e Europa entre as décadas de 1960 e 1970 e eram espaços comerciais ou industriais que acabaram ficando abandonados. Por isso, não possuem paredes dividindo cômodos, costumam ter pé-direito duplo, um design industrial com instalações aparentes e mezaninos.
A proposta se popularizou principalmente após aparecer em filmes (lembra de “Ghost, Do Outro Lado da Vida?”) e séries de TV. Os tijolos aparentes, os janelões e as esquadrias de ferro também inspiraram tendências de décor que são usadas por designers e arquitetos em projetos de interiores nas diversas formas de moradias.
Flat
Os flats são mais compactos, inspirados em quartos de hotel, tanto na decoração como na oferta de facilidades. Costumam contar com serviços de limpeza, lavanderia, troca de roupa de cama e refeições.
JK
Compacto como um loft ou kitnet, sem nenhuma parede interna além das que compõem o banheiro. Não estão necessariamente em localização privilegiada e podem ou não contar com lazer e espaços de convivência.
Existe ainda uma nova nomenclatura, para apartamentos que estão entre o loft e o studio: o JK. Não se sabe ao certo a origem do nome – há quem diga que a sigla refere-se ao ex-presidente Juscelino Kubitschek, que foi acusado de receber um apartamento neste estilo, como pagamento de suposta propina – mas indicaria apenas dois cômodos (quarto/sala/cozinha e banheiro).
O JK popularizou-se na região de Porto Alegre (RS) para apartamentos compactos, mas sem nenhuma parede interna além das que compõem o banheiro. Diferentemente dos studios, que podem ter cozinha e dormitório separados por paredes, o JK segue um design semelhante ao loft, mas com pé direito baixo e menor metragem: no máximo 35 m².
Colaboração de Marcela Guimarães
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