Ter um único quarto para acomodar dois filhos – ou até mais – não precisa ser um problema. Ao contrário, pode ser uma solução interessante para quem vive em apartamentos com dois dormitórios, por exemplo. Ou mesmo para quem dispõe de um terceiro cômodo, mas precisa usá-lo como home office ou para acomodar outra pessoa que vive no mesmo lar.
As gêmeas Gabriela e Marina Geraque, de 12 anos, têm um quarto infantil compartilhado desde bebês. Quando tinham 8 meses, os pais compraram um novo apartamento, que originalmente tinha quatro dormitórios. Além da suíte do casal, um cômodo foi configurado para ser o escritório da arquiteta Fernanda Eiras, mãe das meninas. Os outros dois quartos já haviam sido unificados em uma reforma feita pelo antigo proprietário.
Mesmo com a opção de separar os quartos em uma nova reforma, Fernanda decidiu manter as filhas juntas, no grande dormitório, para facilitar o dia a dia. “Como eram gêmeas, enquanto eu cuidava de uma no trocador, poderia ver a outra no berço, se chorasse. Para mim, naquele momento era mais prático. E como eram duas meninas eu pensei que, mesmo quando estivesse em grandes, os interesses seriam os mesmos”, conta.
Em um novo projeto, a arquiteta Fernanda reformulou o cômodo criando uma marcenaria projetada para as duas filhas. “Eu desenhei um guarda-roupas para cada uma e um armário bem grande com portas só para brinquedos. Há também uma estante para livros, sempre ao alcance das mãos”, conta.
Fernanda Eiras criou também duas escrivaninhas, pensando na individualidade de cada uma durante a idade escolar. “Achei que não daria certo dividirem a mesma escrivaninha, apesar de serem gêmeas e estarem na mesma série. Às vezes, elas estão em classes diferentes, com lições diferentes, então cada uma tem o seu cantinho para atividades”, explica a arquiteta e mãe das meninas.
O planejamento deu certo: Gabriela e Marina amam compartilhar o quarto. O projeto bem executado ajudou a preservar a individualidade de cada uma, mesmo sendo um quarto de irmãs.
Primeiro passo: pense nas funções do quarto
Definir as principais funções para o ambiente é o primeiro passo para que o quarto compartilhado fique funcional e confortável, sugere a arquiteta Izabella Escabeche, da Decor Peti.
“Pense nas categorias: descanso, estudo, amamentação, brincadeira etc. A partir daí, será possível criar uma setorização, pensar nos móveis e no layout do espaço”, explica.
Se for um quarto pequeno para um casal de filhos ou a diferença de idade entre os irmãos for muito grande, atividades diversas estarão acontecendo ao mesmo tempo naqueles poucos metros quadrados. “Uma setorização bem planejada do espaço irá permitir escolhas certeiras, trazer otimização de cada centímetro do quarto e também conforto”, enfatiza a arquiteta.
Aproveitar a altura do quarto usando marcenaria planejada também é uma solução que funciona, principalmente quando o ambiente é pequeno e precisa incluir escrivaninha, camas, guarda-roupas e armários para brinquedos e acessórios. Planejar cada cantinho do quarto é fundamental para conseguir um espaço funcional e organizado.
Partindo desse princípio, é possível pensar todo tipo de configuração: quarto pequeno para irmãos, quarto de irmãos com idades diferentes, quarto para casal de irmãos ou quarto compartilhado por um bebê e outro filho mais velho. Mesmo nas metragens menores, é possível criar soluções lúdicas e confortáveis.
Quarto de irmãos com idades diferentes
Quando os irmãos têm idades diferentes e gostos diferentes, a melhor estratégia para o quarto compartilhado é usar uma base neutra no mobiliário, ou nas paredes, para que o dormitório tenha uma unidade e não pareça um ambiente dividido e pequeno.
“Sugiro móveis com cor mais neutra (nos tons de branco ou cinza) ou padrão de madeira. Os pontos de cor podem aparecer nos detalhes dos móveis, acabamentos e objetos de decoração”, diz Izabella Escabeche.
A arquiteta também indica o uso de móveis multifuncionais para quartos compartilhados, como camas com armários e gavetões embutidos, nichos e baús para guardar os brinquedos. Camas mais altas, com espaço para brincadeira embaixo, também ajudam a compensar a área do quarto que foi ocupada por outra cama.
Outra estratégia é colocar nas paredes cores e elementos que conectem os interesses diferentes dos irmãos, aconselha a arquiteta. “Cores, desenhos e estampas podem fazer esse link, para manter a unidade e também para representar a preferência de cada criança.”
No espaço individual, que costuma ser próximo à cama, cada criança pode ter os objetos e os adornos que representam as suas preferências, como quadros, luminária de parede e placas. Dessa forma, o quarto terá a cara das duas crianças e, mesmo sendo um espaço compartilhado, cada filho sentirá que tem um cantinho exclusivo, trazendo uma importante “sensação de pertencimento”, segundo Izabella.
E quando o quarto é compartilhado com um bebê?
A chegada de um segundo filho pode demandar uma reforma ou repaginação do dormitório que já acomodava outra criança, possibilitando que vire um quarto de bebe compartilhado com o irmão. Uma boa saída é pensar em móveis com dupla função e no total aproveitamento de espaço.
Criar uma mesa de estudos com ajuste de altura, além de ser ótimo para acompanhar o crescimento da criança, também pode ajudar a adaptar o móvel para funcionar como trocador de fraldas.
Além dos projetos infantis pensados para clientes, a arquiteta Izabella também aplicou as soluções que recomenda no quarto da própria filha, Stella, que tinha 4 anos quando ganhou um irmãozinho em 2020. “A parte do bebê ficou com o berço para dormir; e a cômoda, para trocar as fraldas. Para a minha filha, mantive um espaço mais lúdico, com os brinquedos favoritos, os livros, o espelho e os objetos de decoração que remetem à memória afetiva dela”, conta a arquiteta.
A caminha de Stella, além de comportar gavetas, ganhou uma espécie de tablado na extremidade, útil para brincadeiras e também para ganhar um colchão maior quando a menina crescer. “Nesse tipo de quarto é importante ter espaço para a criança mais velha fazer as atividades diárias, e para que não se sinta deixada de lado, mas inserida na rotina com o bebê”, explica.
Para a filha mais velha, a arquiteta também um armário no estilo montessoriano para deixar as roupas e acessórios ao alcance de Stella, mantendo autonomia da criança.
“Minha maior preocupação era criar um quarto bem acolhedor para despertar na Stella um sentimento de pertencimento dentro do próprio quarto, já que antes (do irmão Lucas) o espaço era somente dela”.
O painel colorido na parede ajudou a compor um ambiente lúdico, onde a cor-de-rosa do dossel se funde a outras cores como azul, verde e amarelo, escolhidos para roupa de cama do bebê. O irmãozinho Lucas ganhou uma cômoda, que funciona tanto como espaço de trocador como local para guardar roupas.
Quarto pequeno para irmãos
Se você pensou em um beliche como solução para um dormitório compartilhado com pouca metragem, não está errado. Mas esqueça aquele beliche simples e antiquado. Há no mercado opções bem criativas e lúdicas, de diversos formatos, cores, com acessórios e itens acoplados, que dão uma roupagem moderna e estilosa para a cama para irmãos. Se puder optar por uma marcenaria planejada ou sob medida, é possível criar camas duplas ainda mais personalizadas.
Izabella cita o quarto de dois irmãos, Arthur e Davi, que ganhou um beliche exclusivo, com cama que simula um berço. “Desenhei um beliche mais moderno, com grade de proteção de acrílico incolor transparente para trazer mais leveza, e a cama inferior possui grades removíveis para acomodar o bebê com segurança e permitir que vire uma cama sem grades para ser usada quando ele estiver maior.”
Mesmo repaginado, nem sempre o beliche é a solução escolhida pelos pais – ou a mais prática. Se as duas crianças forem pequenas, com idades próximas, pode ser perigoso colocar uma delas na cama superior do beliche.
Uma alternativa é usar duas camas em altura diferentes. “A cama mais alta pode sobrepor a cama mais baixa e ter altura aproximada de 80 centímetros, ficando mais confortável para acessar, pois é mais baixa do que uma cômoda”, explica Izabella.
Na parte inferior da cama mais alta, é possível ter um nicho escondido com porta de correr, um espaço livre para brinquedos, gavetas para roupas e até um mini armário com rodinhas para brinquedos. Neste projeto, o nicho redondo ganhou iluminação interna e virou um espaço bem lúdico para esconder brinquedos, servindo como toca ou esconderijo das crianças.
Quarto compartilhado entre menino e menina
Projetar um quarto para um casal de irmãos ou para crianças do mesmo sexo pode ter o mesmo grau de dificuldade. Para a arquiteta Izabella Escabeche, o fato de um menino e uma menina dividir o mesmo cômodo nem é tão relevante na hora de projetar o ambiente. “O que importa são os gostos e as preferências de cada um. Certamente o tempo do rosa e azul já era”, brinca.
Para a arquiteta, o que vale é respeitar os desejos e a individualidade de cada um, para que cada criança sinta que o quarto é tão dela quanto do irmão ou irmã. “Um quarto infantil não precisa ser um cenário que logo ficará datado e cansativo”, explica.
Para fugir dos esteriótipos, use as dicas citadas pela Izabella para criar os quartos compartilhados: base neutra, cores nos acessórios, objetos personalizados para cada filho e adereços que ajudem a criar links entre os diferentes interesses. Uma roupa de cama personalizada também é uma boa saída para manter a individualidade de cada criança que compartilha o mesmo quarto. Importante também envolver a criança no processo de escolha dos ítens que vão compor o quarto, para que se sinta parte desse processo de criação.
Colaboração de Marcela Guimarães
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