Apartamento para idosos: dicas de como para adaptar

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Especialista em geroarquitetura, a arquiteta Flavia Ranieri explica como adaptar o banheiro, a área social e os móveis de um apartamento para moradores idosos. Ela também explica o que é necessário ficar atento na hora de comprar um imóvel novo para uma pessoa mais velha

08 de junho de 2022

Atualizado: 31 de janeiro de 2024 13 min de leitura
banheiro idosos box vidro azulejo estampado

“Meus pais viviam em Belo Horizonte e eu e meus irmãos morávamos fora quando minha mãe caiu da escada de casa. Nada grave aconteceu, mas acendeu um sinal amarelo para gente: como seria o envelhecimento deles? E o meu próprio?”, conta a arquiteta Flavia Ranieri. A preocupação fez com que a família procurasse formas de deixar a casa mais segura para os idosos, mas, no processo, eles se depararam com itens com caráter hospitalar que não refletiam o momento de vida deles. “Aí eu percebi o tamanho do vazio no mercado para esse nicho e comecei a estudar o tema. Me apaixonei por ele e acabei fazendo uma pós-graduação em gerontologia pelo Instituto Albert Einstein, de onde nunca mais larguei o assunto”, explica.

Hoje, Flávia possui um estúdio de arquitetura voltado para o público sênior e uma startup chamada gero.pro, que presta consultoria para empresas e ajuda na formação de novos profissionais que impactam de alguma forma os ambientes construídos e as experiências para os maduros. Seu campo de atuação é chamado de geroarquitetura, uma mistura entre gerontologia e arquitetura, que leva em conta os declínios físicos enfrentados pelos idosos com uma visão psicológica e social. É uma forma de ver a arquitetura de forma mais inclusiva, longeva e atemporal. 

De acordo com a pesquisa Tsunami 50+ realizada com o público sênior brasileiro, os 50+ movimentaram mais de R$ 1,8 trilhão em 2020, o que corresponde a 24% do PIB brasileiro. Essa mesma pesquisa mostrou que 25% do público 55+ sente que não há produtos e serviços para suas demandas; e isso inclui preocupações com acessibilidade arquitetônica.

As cifras tendem a aumentar, já que o Ministério da Saúde informa que em 2016, o Brasil já apresentava a quinta maior população idosa do planeta e, em 2030, o número de pessoas 60+ vai ultrapassar o total de jovens de até 14 anos.

Na entrevista abaixo, a arquiteta Flávia Ranieri indica quais os pontos de atenção para um apartamento onde mora uma pessoa mais velha e também dá dicas para quem está pensando em comprar um imóvel.

Se o idoso está no processo de adquirir um apartamento novo, o que ele deve ficar atento no imóvel? 

A mobilidade e a independência de uma pessoa se expandem além da área privativa de um apartamento. A conexão com o entorno deve ser levada em consideração. O comprador deve observar as condições da calçada, da rua e como se dá o acesso ao edifício. Importante se atentar às áreas comuns: há rampas e é possível chegar a todos os locais de lazer que o empreendimento oferece? Elevador e acesso com desníveis fáceis de serem superados é o básico. Imagine se um dia acabar a energia? Como o morador fará? Por isso, é sempre bom colocar em prática dicas de como economizar energia.

O que não pode faltar na planta baixa do apartamento?

Dois pontos críticos devem ser observados na planta baixa: circulações largas e banheiro que caiba pelo menos duas pessoas. Nem sempre isso é possível. Analise, então, se o imóvel aceitará facilmente uma reforma no futuro ou se isso será difícil. Imóveis que não aceitam adaptação são inimigos dos maduros.

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Apartamentos com áreas compartilhadas são indicados?

O que afasta os maduros desse tipo de imóvel costuma ser o tamanho do apartamento e não a questão do compartilhamento. Apesar desse perfil de comprador geralmente buscar por imóveis mais práticos e menores, os apartamentos studios com áreas muito reduzidas não comportam os pertences de uma vida. Infelizmente são esses os empreendimentos que costumam explorar mais o compartilhamento de áreas e atividades.

Posso pedir para os funcionários do condomínio ficarem de olho num morador da terceira idade?

Com relação aos condomínios, o primeiro item a ser discutido é se o idoso quer ter sua vida controlada. A grande maioria não quer. Um grupo de Whatsapp é uma ótima ferramenta e a nova geração de 60+ usa essa ferramenta como ninguém. É um bom local para oferecer e pedir ajuda e formar uma rede de conhecidos e amigos próximos.

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Móveis com design arredondado são mais seguros que os com quinas. Prefira sofás com assentos mais firmes. Projeto de Flávia Ranieri. Foto: Rafael Renzo

E para quem já mora em um apartamento: o que fazer? 

O ideal é pensar o apartamento de forma preventiva. Antes que qualquer problema ocorra, os acidentes podem ser evitados. Piso antiderrapante é o primeiro deles. Em segundo lugar, deixar a iluminação da casa adequada. Em terceiro, mexa em questões que atrapalhem a mobilidade. No entanto, o processo de envelhecimento é muito particular. Cada um envelhece de uma forma. 

Existe uma hora específica para começar a adaptar a casa? 

O primeiro sinal de que é necessário fazer alguma mudança é quando o morador deixa de fazer uma atividade que gosta em casa porque começou a ficar difícil lidar com o declínio físico natural. Muitos possuem resistência a mudanças, mas entender que mudar pode significar manter a independência é uma ótima forma de encarar as coisas! Não precisa encher o banheiro de barras de apoio, por exemplo, mas colocar uma dentro do box ajuda a todas as gerações! Mude a medida que for sentindo necessidade. A casa deve mudar no ritmo do morador.

No layout dos imóveis: o que os idosos preferem e precisamos ficar atentos? 

Muito se foca em circulações largas, o mínimo de desníveis possíveis, acessibilidade e segurança. Esses itens são fundamentais e muito importantes, no entanto precisamos lembrar que outros pontos contribuem para uma qualidade de vida boa e saudável. Na parte da insolação, é importante ter uma área onde seja possível tomar sol, assim como se atentar ao grau de luminosidade do apartamento. Um local com uma boa iluminação natural favorece aos que têm perda visual e ajuda no equilíbrio do ciclo circadiano do corpo.

O excesso de ruído prejudica não somente a saúde, como atrapalha atividades cotidianas como assistir TV, ouvir o telefone ou interfone tocar, escutar um alarme de incêndio ou até mesmo conversas entre os moradores. Se o local for bom, mas o ruído for alto, considere instalar janelas acústicas ou ainda fazer isolamento acústico. Uma vista que permita que o morador observe a mudança das estações e do clima do dia é um grande estímulo cognitivo.

E sempre lembrar que a adaptação é a palavra-chave: muitas vezes o imóvel não é seguro, mas aceita facilmente os ajustes.

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O vidro do box deve ser laminado e temperado para evitar cortes caso se quebre. Projeto de Flávia Ranieri. Foto: Rafael Renzo

Como deixar o banheiro adaptado para os idosos? 

Banheira é um grande inimigo dos maduros, pois exige muitas funções complexas do organismo para que se entre e saia dela. Ao adicionar o fato da pessoa estar molhada e mais cansada no fim do banho, os riscos aumentam muito. Recomendo a remoção dela. Se o morador não abre mão, existem modelos acessíveis que possuem porta lateral e são mais seguros.

O vidro do box deve ser laminado e temperado para evitar cortes caso se quebre. Se possível, tenha apenas o trilho superior e evite desníveis e trilhos na parte inferior. Prefira ralos de modelo linear. E uma dica importante: ao escolher um piso antiderrapante, cuidado para não ir para o outro extremo e escolher um piso que foi desenvolvido para uso em áreas externas ou rampas. Sua rugosidade extrema deixa a limpeza difícil, principalmente em áreas onde se faz o uso de xampus e cremes.

Quais as medidas ideais para que um banheiro fique funcional?

O banheiro não precisa ser enorme, como pede a norma de acessibilidade (180 x 180 cm). Mas é bom ter o tamanho para comportar duas pessoas. Pense que pode ser necessário transformá-lo em acessível no futuro. Uma bancada com altura de 80 cm atende tanto uma pessoa com cadeira de rodas, quanto uma em pé. Prefira também também sempre chuveiro com chuveirinho à ducha manual. Dessa forma, a pessoa consegue se lavar sozinha, sem precisar necessariamente da ajuda de um familiar ou cuidador.

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Barras pretas dão segurança ao ambiente, mas também combinam com os metais e esquadrias do banheiro. Foto: Rafael Renzo

Quais os cuidados na cozinha?

Os maiores riscos na cozinha são cortes com peças afiadas, queimaduras e escorregões. Reforçar que uma boa iluminação na cozinha ajuda muito, principalmente sobre as superfícies de trabalho. Um timer para lembrar da comida no fogão e um sensor de fumaça com alarme evitam estragos maiores e um piso antiderrapante de cor uniforme e clara permite a visualização de elementos no chão e facilita a limpeza.

O que fazer na sala e no quarto?

Nessas áreas consideramos dois itens: conforto e mobilidade. Manter as circulações livres de obstáculos é o primeiro passo. Nada de caixas, fios, pufes e objetos baixos pelo caminho. Evitamos tapetes, mas se o idoso não abrir mão, instale fitas antiderrapantes ou dupla face no verso para que ele não se mova. Prendê-los sob objetos pesados e tirá-los pelo menos das áreas de circulação também são bons truques. 

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Prefira móveis com bordas arredondadas e peças soltas para facilitar a circulação. Foto: Rafael Renzo

Qual o melhor tipo de mobiliário para idosos?

Os móveis com bordas arredondadas são os ideais, mas se isso não for possível, coloque um objeto que chame a atenção na borda para ajudar na visualização da quina. Sofás com assentos firmes ajudam a diminuir a profundidade e fazem com que seja mais fácil se sentar ou levantar. Opte por opções com braços e, no caso de cadeiras de jantar, escolha cadeiras abertas para facilitar a limpeza caso a pessoa tenha costume de derrubar comida durante as refeições.

Móveis soltos dão mais flexibilidade para a casa e ajudam a mudar a circulação conforme a necessidade. Para os puxadores de gavetas, os modelos tipo alça são mais fáceis de acionar por quem tem artrite ou artrose. O mesmo vale para maçanetas: as que funcionam como alavancas são mais indicadas do que as redondas.

Como evitar acidentes na varanda?

Vasos e paisagismo favorecem a integração com a natureza e são altamente recomendados. Prefira peças de altura média que não sejam baixas a ponto de tropeçar, nem altas a ponto de tirar a vista. O uso da rede de proteção não deve ser usado como regra. Se o problema for um idoso com problema cognitivo, a rede de proteção pode não funcionar, pois ele facilmente consegue cortá-la com uma tesoura.

Se a preocupação é com um peitoril baixo e sua segurança, vale a pena ver regras do condomínio e conversar com o responsável para ajustar a peça, pois o risco é para todas as gerações. Todos estamos sujeitos a tropeços.

Se os idosos tiverem pets, o que fazer?

Deixe as vasilhas de água e comida em um local que não seja de circulação constante para evitar passar em áreas molhadas. Se conseguir treinar o cachorro em apartamento para usar os brinquedos em área específica, parabéns! Eu estou tentando com o meu e ainda não consegui! Um adestrador pode ajudar tanto nesse ponto quanto a treinar o animal a sair da frente com a aproximação de uma pessoa. Assim se evita tropeçar no próprio bichinho.

Quanto à iluminação: o que é importante?

A iluminação deve ser uniforme e de preferência indireta para evitar o ofuscamento. Se puder escolher entre a luz de cortineiro e a de rodapé para o período noturno, opte pelo segundo. O idoso tem o hábito de caminhar olhando para o chão, justamente pelos déficits que ele já enfrenta. Hoje em dia já são vendidas peças prontas para receber essa solução.

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No Estúdio da Longevidade, projeto de Flávia Ranieri para a CASACOR SP 2018, os móveis soltos permitem uma maior flexibilidade de layout, favorecendo a circulação. Foto: Rafael Renzo

Como escolher eletrônicos e eletrodomésticos?

Com certeza quanto mais simples melhor. Muitas vezes temos eletrodomésticos com milhares de funções, mas que só usamos uma ou duas. Veja se o design é intuitivo. Se não precisa de manual de instruções para operar, melhor ainda! As letras e os símbolos devem ter um bom tamanho e os botões devem ser de fácil manuseio. Sempre experimente antes de comprar. Para os mais tecnológicos, a automação residencial cria a smart home, o que pode facilitar no dia a dia, como acionar luzes pelo comando de voz.

Objetos decorativos podem ficar expostos sem problemas?

Objetos decorativos e afetivos são altamente recomendados, pois traduzem a personalidade e a história do morador. Atente apenas para as questões de segurança: antes de descartar uma peça, veja se não pode simplesmente trocá-la de lugar. Objetos suspensos, como quadros, devem estar acima da altura da cabeça para evitar batidas e devem ser apenas decorativos e não funcionais. Assim o morador não fica tentado a pegar um banquinho ou cadeira para pegar algo ou molhar uma planta, por exemplo.

Quais os revestimentos e materiais mais indicados para idosos? 

Levando em consideração os principais problemas enfrentados nessa etapa de vida, a escolha de pisos e revestimentos é muito importante. A dica é dar preferência aos materiais foscos, de tons neutros e com superfície uniforme. Deve-se levar em consideração em qual superfície será aplicado para entender a melhor especificação.

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