O nome cobogó pode parecer estranho à primeira vista, mas com certeza todo mundo já viu um na vida. “Apesar de ser muito utilizado em fachadas e em muros que separam ambientes internos e externos, hoje, o cobogó faz também parte dos interiores, já que está disponível em um grande número de materiais e modelos”, explica a arquiteta Cristiane Schiavoni.
O que é cobogó?
Nada mais é do que um tijolo vazado, uma espécie de bloco com aberturas, que pode servir de decoração, parede divisória e até fazer parte de móveis – e está disponível em diversas materiais, cores e formatos. Flexibilidade, textura e volume são algumas das características que o revestimento oferece, tornando-se um material muito apreciado nos projetos de lofts, apartamentos pequenos, kitnets e outros espaços.
Origem do cobogó
Criação brasileira datada da década de 1920, a invenção saiu da mente de dois comerciantes e um engenheiro de Pernambuco. “O nome cobogó vem das iniciais deles, o (Amadeo Oliveira) Coimbra, o (Ernest August) Boeckmann e o (Antônio) de Góis”, ensina Cristiane. A denominação, no entanto, sofre variações pela sonoridade incomum. Pelo Brasil, é possível ouvir palavras como combobó, combogó, comogó, comongol, comogol e até comungó.
“Como o nordeste é muito quente, eles tinham a necessidade de ter uma ventilação natural permanente, mas sem bloquear a entrada de luminosidade”, conta a arquiteta. As primeiras peças feitas de cimento eram utilizadas principalmente nas fachadas. No entanto, o que começou de forma regional, expandiu rapidamente para o resto do país. Grandes nomes da arquitetura como Oscar Niemeyer e Lúcio Costa utilizaram cobogós em seus projetos – os tijolos vazados, inclusive, caracterizam grande parte dos prédios residenciais de Brasília.
Outro exemplo da globalidade do material é a fachada lateral do centro cultural Japan House, localizado na Avenida Paulista, em São Paulo: cobogós brancos compõem com a madeira, em um projeto assinado pelo arquiteto japonês Kengo Kuma em parceria com o escritório brasileiro FGMF.
Cobogó na decoração
O grande diferencial desse elemento vazado na decoração consiste na versatilidade da arquitetura moderna. Além de permitirem a entrada de luz natural e a ventilação dos ambientes, também cria privacidade e pode ser usado em áreas úmidas. “Cobogó é um elemento arquitetônico excelente para separar, por exemplo, uma cozinha da área de serviço, assim como a ligação entre dormitório e banheiro. Também atua como uma ‘contenção’ para que os odores não transitem entre os ambientes”, comenta a arquiteta Flávia Burin, do escritório Studio HA.
No entanto, seu uso pode se estender para todos os ambientes de uma casa ou apartamento: setorizar a cozinha, isolar a área do box do banheiro ou até dar um charme no hall de entrada são soluções comuns. “Uma boa opção é usar para esconder portas ou entradas, sem atrapalhar a climatização do ar-condicionado”, conta Cristiane. A profissional também indica a mescla de técnicas, como unir marcenaria e cobogós para criar um painel de TV. Se a opção for por colocar os blocos na frente de uma parede, é possível criar contraste com cores diferentes ou utilizando uma iluminação direcional.“ Também podemos personalizá-los, pois existem fábricas que aceitam encomendas de padrões”, informa Flavia.
Outra vantagem é que, por ser leve, criar uma parede de cobogós gera menos sobrepeso em uma laje do que construir uma superfície de tijolos ou de concreto. Ou seja, é um material comumente indicado para ser usado em apartamentos, já que dificilmente irá interferir na estrutura do edifício. Aqui vale lembrar que o cobogó é considerado um revestimento decorativo e não estrutural – ou seja, não substitui uma parede de sustentação. E, em qualquer projeto que envolva construção, a recomendação é sempre consultar um arquiteto ou engenheiro para avaliar a obra.
Como instalar cobogó em casa
Apesar de não precisar de um profissional especialista em cobogó, na hora de contratar a mão-de-obra para seu projeto, o melhor é chamar alguém experiente em obras. “O primeiro passo é ler os manuais de instrução para esclarecer quaisquer tipos de dúvidas a respeito do uso e da instalação e conferir sugestões de paginação”, explica Anderson Patrício, coordenador da Garantia da Qualidade Decortiles.
Na hora de assentar os cobogós, deve-se prestar atenção se as peças estão niveladas em relação às superfícies. Como os blocos são individuais, lembre-se de que não é possível cortar as unidades – às vezes é necessário completar cantos ou laterais da parede com madeira ou gesso. A dica aqui é dispor os cobogós no chão antes de iniciar a colocação. “Isso vale para analisar se a acomodação dos blocos está correta e evitar que você confunda ou inverta a posição das peças”, recomenda Elton Burian, diretor comercial e de marketing da Burguina Cobogó. Como a fabricação é artesanal, pode haver diferenças de tamanho em cada peça.
A junta de assentamento, ou seja, aquele espaço deixado entre as peças durante a instalação, pode variar de 3 a 10mm – não se esqueça de dar atenção ao rejunte para criar um bom acabamento. “A argamassa colante adequada é a do tipo AC III. Também recomendamos que as peças sejam impermeabilizadas com hidrofugantes ou óleo fugante em uma primeira demão para evitar o surgimento de manchas de instalação ou de manuseio. Após a instalação, passe mais duas demãos do produto”, aconselha Anderson.
Tipos de cobogó
Cobogó de Concreto
O material que deu origem ao cobogó é resistente e comumente especificado em ambientes abertos, já que pode pegar sol e chuva. Nos interiores, cria ambientes industriais e rústicos.
Vidro
Mais delicado, permite a passagem de luz e combina com os estilos moderno e minimalista. Muito usado como painel decorativo ou divisórias de espaços com plantas, como jardim de inverno.
Gesso
Pode ser usado nas áreas internas e externas. Por conta de seu acabamento branco, facilita a vida dos moradores que desejam permanecer com a cor. A desvantagem é a manutenção, pois a sujeira aparece mais facilmente.
Cerâmica
É o mais popular e está disponível em uma grande variedade de cores. Pode figurar em áreas externas e internas e seu acabamento natural lembra o tijolo. “Sem contar que são aptos para receber pintura com tinta fosca ou brilhante”, acrescenta a arquiteta Flávia Burin.
Cobogós com design assinado
Cobogó Mundaú
O Cobogó Mundaú é feito a partir da concha do sururu, molusco muito utilizado na culinária nordestina – a população em torno da Lagoa Mundaú (AL) descartava as conchas por ali e o acúmulo de resíduos gerava um problema ambiental e de saúde pública. Por meio de uma iniciativa desenvolvida por Marcelo Rosenbaum, Rodrigo Ambrósio e pelo Instituto A Gente Transforma, além do apoio da Pointer, marca do grupo Portobello, essas conchas começaram a ser transformadas de modo artesanal pela comunidade local e hoje compõem os cobogós vendidos em todo o Brasil.
Com um recorte vazado em formato orgânico, a superfície do cobogó é inspirada no próprio contorno do marisco e reflete o brilho furta-cor da concha, ora com predominância de verde, ora com destaque no roxo.
Cobogó Mão
Quem também assina outro cobogó icônico são os irmãos Campana: impressionados pelo desastre ambiental ocorrido em Mariana (MG), Fernando e Humberto Campana criaram um tijolo cujo desenho interno representa o formato de uma mão, como um simbólico manifesto às tragédias causadas no estado.
Intitulado como “Mão”, o cobogó resulta da mistura de três diferentes tipos de argila. Parte do valor de venda das peças é revertida para as atividades sociais realizadas pelo Instituto Campana. As peças são feitas em parceria com a empresa Divina Terra.
Como limpar cobogó
Como o ar circula por dentro da cavidade do bloco, é normal acumular poeira ou resíduos por ali. Então, apesar de simples, a limpeza deve ser feita com frequência: água e detergente neutro são eficazes para a higienização. Caso o espaço vazado seja pequeno, um aspirador de pó dá conta da tarefa.
Para os cobogós recém-instalados, que ainda possuem restos de cimentos, é recomendado o uso de uma lixa d’água 320. E, se os blocos estão na área externa, como numa fachada, o ideal é a utilização da máquina de lavar com alta pressão jato leque aberto. Nunca limpe com materiais ásperos como esponjas de aço ou produtos abrasivos.
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