Ao acompanhar o noticiário econômico, você perceberá que a inflação é um tema bastante recorrente. Isso acontece porque a alta de preços impacta de forma direta o cotidiano do brasileiro. No Brasil, esse indicador é medido, principalmente, pelo IPCA.
Nesse contexto, tanto a rentabilidade dos investimentos quanto as taxas de juros do crédito imobiliário, além da atualização de valores nos contratos de locação, são afetados pela inflação. Por isso, entender o que ela representa e como está presente na sua rotina é essencial para se proteger e tomar decisões mais acertadas.
Neste artigo, você entenderá o que é IPCA e qual é a importância desse indicador no seu cotidiano. Continue a leitura para não perder nenhuma informação!
O que é inflação?
A inflação define o aumento constante e generalizado dos preços de bens e produtos. Com isso, ela faz o dinheiro perder valor ao longo do tempo e, consequentemente, o poder de compra da população diminui.
Por exemplo, suponha que você gaste R$ 100 para comprar 10 produtos no mercado, hoje. No próximo ano, se houver avanço da inflação, esse montante não será mais suficiente para adquirir os mesmos itens, certo?
Ou seja, pode ser necessário gastar mais dinheiro para comprar os 10 produtos ou ter que levar menos mercadorias com os mesmos R$ 100. Percebeu como essa é uma situação comum na rotina dos consumidores?
Contudo, embora a inflação cause receio na população, ela não é prejudicial quando está controlada. Na prática, esse aumento de preços pode indicar que a economia do país está aquecida, por exemplo.
Além disso, vale saber que a inflação pode ser dividida em três grupos. São eles:
- inflação de custos (ou de oferta): acontece quando é preciso investir mais para a produção de um bem ou oferecimento de um serviço, impactando diretamente setores relevantes da economia;
- inflação de demanda: ocorre nos momentos em que o mercado não consegue suprir a procura por determinado produto ou serviço, fazendo com que o preço dele aumente;
- inflação inercial: tem relação com a confiança do mercado e as expectativas para o crescimento da economia de um país.
O que é IPCA?
Após saber o que é a inflação, é coerente pensar que ela precisa ser medida, concorda? Para isso, cada país usa um índice oficial que mensura o avanço de preços ao longo de determinado período.
No Brasil, o principal indicador é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), criado no final da década de 1970. Ele é calculado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e tem como base uma cesta de produtos.
Dessa forma, o IBGE consegue monitorar e divulgar periodicamente a variação média de preços no país. Desde os anos 2000, o Banco Central utiliza o IPCA em suas decisões econômicas — como para a definição da taxa básica de juros, que você compreenderá melhor adiante.
Como esse índice de inflação é calculado?
Em relação ao cálculo do IPCA, o IBGE faz o monitoramento diário de uma cesta de produtos e serviços. Esse acompanhamento não acontece em todas as cidades do Brasil. Na verdade, o instituto considera uma lista de metrópoles de todas as regiões do país e coleta apenas o preço à vista dos itens.
Ainda, a verificação é focada no custo de vida de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos. Então o objetivo do IPCA é revelar como as variações de preço interferem no poder de compra das pessoas.
A cesta de produtos e serviços avaliada é definida com base nos itens mais presentes na rotina das famílias brasileiras. Os grupos analisados são:
- transporte;
- alimentação e bebida;
- saúde e cuidados pessoais;
- habitação;
- vestuário;
- despesas pessoais;
- educação;
- comunicação;
- artigos de residência.
Entre os elementos de cada grupo estão aluguéis, combustíveis, cursos e materiais escolares, roupas, serviços médicos e itens recreativos. No entanto, esses grupos não têm o mesmo peso na composição do IPCA.
Ademais, a influência de cada produto e serviço no cálculo do índice é revista regularmente. Se for necessário, mudanças são realizadas para que o indicador se mantenha atualizado em relação à tendência de consumo da população brasileira.
Da mesma forma que acontece com a cesta de produtos, existe uma ponderação entre as cidades analisadas, considerando a sua relevância. Desse modo, os municípios mais populosos têm um peso maior no cálculo do IPCA.
Considerando todos esses fatores, o IBGE aplica uma fórmula própria e obtém as oscilações de preços dos bens e produtos avaliados. Assim, o IPCA apresenta uma visão geral sobre a inflação no país.
O que é o IPCA acumulado?
Depois de saber como o índice de inflação oficial do Brasil é calculado, é hora de aprender sobre o IPCA acumulado. Ele representa a soma das variações do indicador em determinado período e é dado em porcentagem.
Para entender melhor, suponha que os índices medidos em cada mês do primeiro semestre de um ano foram:
- IPCA de janeiro: 0,83%;
- IPCA de fevereiro: 0,25%;
- IPCA de março: 0,33%;
- IPCA de abril: 0,18%;
- IPCA de maio: 0,15%;
- IPCA de junho: 0,12%.
Para obter o IPCA acumulado, basta somar as porcentagens. Então, no semestre, o resultado foi 1,86%. Analisar esse indicador é importante para compreender como ocorreu a evolução da inflação ao longo do tempo.
Isso ajuda o Governo a entender o cenário econômico e permite tomar decisões relacionadas à política monetária do país. O resultado também pode ajudar o Conselho Monetário Nacional (CMN) a estipular a meta de inflação do ano.
Qual é a influência da inflação no cotidiano do brasileiro?
Como a inflação contribui para o aumento nos preços, é esperado que ela exerça influência na vida das famílias brasileiras, não é mesmo? Para compreender como o seu orçamento pode ser afetado pelas oscilações do IPCA, vale analisar diferentes cenários.
Entenda como o índice influencia o seu cotidiano!
Redução do poder de compra
O primeiro fator que vale ressaltar sobre a influência da inflação no cotidiano das pessoas é a redução do poder de compra. Como você aprendeu, os itens de consumo ficam mais caros, levando você a destinar uma parcela maior das suas receitas para comprar os mesmos produtos que conseguia adquirir no passado.
Para contornar essa situação, é comum as pessoas mudarem seus hábitos de consumo, como ao trocar as marcas que elas costumam usar por outras mais acessíveis. A ideia é reduzir os impactos do aumento de preços no orçamento pessoal.
Reajuste de contratos
O IPCA, especialmente o acumulado anual, também pode influenciar o reajuste de diversos contratos. Isso acontece quando o índice é utilizado como referência para definição de preços de determinados serviços.
Por exemplo, a mensalidade de escolas pode ser ajustada anualmente com base no IPCA acumulado do ano. Por isso, o preço tende a aumentar com o tempo — e o mesmo acontece com diversos outros serviços.
Mudanças na taxa Selic
O IPCA também está relacionado com a Selic (a taxa básica de juros da economia brasileira). Ela é uma ferramenta da política monetária nacional que ajuda a manter a economia do país mais equilibrada, sendo o principal parâmetro de controle da alta da inflação.
Além disso, a Selic influencia outras taxas, como os juros de empréstimos, financiamento imobiliário e até cartão de crédito. A taxa é definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), órgão ligado ao Banco Central, que realiza reuniões a cada 45 dias.
Nos encontros, os membros do Copom definem se a taxa aumentará, diminuirá ou será mantida no mesmo patamar. Para isso, eles consideram dados do cenário econômico nacional e internacional, assim como as projeções dos resultados.
O objetivo da taxa é frear o consumo quando a inflação está alta. Nesse caso, o Copom tende a aumentar a Selic, dificultando o acesso ao crédito e diminuindo o consumo. Então a demanda tende a cair, o que pode frear o avanço ou diminuir a taxa inflacionária.
Já uma Selic baixa facilita o acesso a empréstimos e financiamentos pela população. Isso favorece o consumo e, com o aumento da demanda, é comum os preços subirem. Logo, a inflação também pode aumentar. Interessante essa dinâmica, não é mesmo?
Qual é o impacto do IPCA no mercado imobiliário?
Você viu que o IPCA também se relaciona com o mercado imobiliário brasileiro, tanto na compra e venda de imóveis quanto nos contratos de aluguel. Afinal, ele é um dos principais indicadores que podem ser utilizados nesses processos.
Entenda como o IPCA impacta as principais áreas do mercado de imóveis e, consequentemente, as suas decisões!
Financiamento imobiliário
Comumente, a compra de imóveis envolve um financiamento. Como você aprendeu, quando o índice de inflação é alto, os juros dos contratos de crédito tendem a subir, devido à movimentação da taxa Selic, certo?
Mas há impactos mais diretos, por exemplo: é possível utilizar o IPCA para fazer os reajustes monetários em alguns contratos. Ou seja, ele pode ser o índice que atualiza o valor da dívida.
Em 2019, a inflação brasileira estava sob controle e a Selic estava em queda. Nesse contexto, a Caixa Econômica Federal criou uma linha de financiamento imobiliário com ajustes de parcelas pelo IPCA. Na época, era esperado que o cenário fosse se prolongar por bastante tempo.
No entanto, com as mudanças econômicas ocorridas a partir da pandemia de covid-19 em 2020, a inflação disparou no país. Então quem atrelou o financiamento imobiliário ao IPCA viu as parcelas e o saldo devedor aumentarem rapidamente.
Antes disso, era mais comum encontrar financiamentos imobiliários corrigidos pela Taxa Referencial (TR). Ela foi criada em 1990 para combater a hiperinflação da época, e servia como referência para a economia brasileira.
Isso mostra a importância de conhecer as modalidades de crédito disponíveis e avaliar as características de cada uma. Assim, quem deseja comprar um imóvel financiado pode comparar as alternativas para fazer uma escolha mais alinhada às suas necessidades.
Tenha em mente que a decisão dependerá do seu perfil, da renda disponível, do prazo do financiamento e do seu relacionamento com o banco.
Além disso, embora o IPCA possa ser utilizado nos financiamentos de imóveis, outro índice inflacionário bastante comum no mercado imobiliário é o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). Por isso, vale aprender sobre esse indicador.
Confira!
IGP-M
O IGP-M é um índice de preços da economia nacional calculado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O seu objetivo é mostrar qual foi a variação de uma cesta de bens e serviços no período analisado.
A pesquisa é realizada em diversas cidades do Brasil. O cálculo do IGP-M é baseado na precificação do varejo, indústria, construção civil, agronegócio e atacado. Com essa abrangência, ele é considerado um índice amplo, que representa as movimentações de preços de diversos produtos e serviços.
Outro ponto relevante é que o IGP-M é calculado com base em média aritmética ponderada de três outros índices: IPA, IPC e INCC. O IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) mede os preços de produtos industriais e agropecuários, antes de eles chegarem ao consumidor final.
O IPC (Índice de Preços do Consumidor) tem o objetivo de calcular a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços bastante abrangente. Logo, esse índice mede o custo de vida das famílias brasileiras e avalia o poder de compra da população.
Já o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) verifica a evolução de preços na construção civil. Porém, ele se limita ao setor de habitação, considerando apenas a cotação de materiais, serviços e mão de obra.
Diante disso, o IGP-M traz preços relacionados ao mercado imobiliário. Por esse motivo, ele costuma ser utilizado para reajuste de contratos de aluguel e de outros acordos relativos à construção civil.
Vale ressaltar que, devido à metodologia de cálculo do IGP-M, ele tende a se relacionar mais ao valor de commodities e dólar, não refletindo diretamente a realidade dos brasileiros.
Contratos de aluguel
Também é importante entender como o IPCA se relaciona com os contratos de aluguel. Isso vale tanto para quem é locatário quanto para quem já tem um imóvel próprio ou pretende adquirir um bem e colocá-lo para alugar.
Isso porque o reajuste de aluguel, que normalmente acontece anualmente ou quando há renovação do contrato de locação, tende a ser baseado em algum indicador da economia nacional. Esse valor deve ser definido em contrato.
No mercado imobiliário, é bastante comum encontrar alternativas baseadas no IGP-M. Contudo, adotar esse indicador não é uma prática obrigatória, pois as partes podem negociar livremente. Então também é possível usar outros índices como indexadores do reajuste, como o IPCA.
A escolha do indicador dependerá de fatores como o momento e a projeção da economia para o futuro. Em alguns casos, o IPCA pode ser maior, enquanto em outros contextos, o IGP-M acaba superando a inflação oficial — e os aumentos sucessivos nos índices tendem a levar a renegociações dos contratos.
Logo, não há uma resposta correta sobre o melhor índice inflacionário para correção dos aluguéis. Na verdade, é fundamental conhecer esses aspectos para encontrar um valor justo para todas as partes, considerando as necessidades do inquilino e do proprietário.
Lembre-se de que um reajuste elevado pode parecer favorável para o locador, mas isso pode levar ao encerramento do contrato pelo locatário e gerar a vacância do imóvel.
Como o índice afeta o mercado financeiro?
Além de ter reflexos no seu orçamento familiar e no mercado imobiliário, o IPCA também se relaciona com os investimentos no mercado financeiro — especialmente em relação à rentabilidade. Para entender essa questão, é preciso conhecer dois conceitos.
O primeiro é referente à rentabilidade nominal. Ela se relaciona ao resultado bruto do investimento obtido em determinado período. Na renda fixa, por exemplo, trata-se da taxa expressa em um percentual acordado no momento do aporte.
Se você investiu R$ 1 mil em um título de renda fixa, com retorno anual prefixado em 10% e vencimento em um ano, você resgatará R$ 1.100 no fim do prazo. Então essa é a sua rentabilidade nominal, certo?
Já a rentabilidade real tem o desconto da inflação no período. Ou seja, ela desconsidera as variações do IPCA acumulado sobre o investimento realizado. Ao fazer o cálculo, você perceberá que a rentabilidade real pode ser positiva ou negativa.
Por exemplo, se a inflação acumulada no ano da hipótese anterior foi de 12%, a rentabilidade real do investimento será negativa. Isso significa que os seus ganhos não foram suficientes para manter ou ampliar o poder de compra do seu dinheiro.
Diante desse contexto, é essencial que os investidores também acompanhem as variações do IPCA. Desse modo, é possível analisar seus resultados de forma realista e entender se o patrimônio realmente avançou.
Dependendo do caso, é preciso buscar novas estratégias de investimento, como ao incluir alternativas atreladas ao IPCA na carteira. A principal forma de fazer isso é com aplicações de renda fixa com rentabilidade híbrida.
Nesse caso, a remuneração segue um índice de inflação, geralmente o IPCA, mais uma taxa fixa. Isso garante uma rentabilidade real positiva e assegura o aumento do poder de compra.
Como acompanhar as variações do IPCA?
Agora que você entende a importância do IPCA e os impactos que ele pode causar em diversos âmbitos da sua vida, é relevante saber como acompanhá-lo, certo? Afinal, manter-se bem-informado é essencial para encontrar estratégias para se proteger dos avanços inflacionários.
Nesse sentido, saiba que o IBGE informa os resultados obtidos ao longo de todo o mês de referência no mês seguinte. Isto é, o instituto coleta os dados do IPCA de janeiro durante o primeiro mês do ano, mas a divulgação do índice ocorre apenas em fevereiro, por exemplo.
Em geral, o IBGE faz a comunicação do calendário por meio de uma nota em seu site e um comunicado à imprensa. Na plataforma do instituto você também encontra diversas tabelas e gráficos que permitem visualizar a movimentação de preços, de acordo com as seguintes categorias:
- faixa de renda;
- grupo de produtos e serviços;
- região do país.
Outra forma simples de acompanhar as mudanças da inflação brasileira é por meio do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central. Ele apresenta diversas informações importantes sobre o comportamento dos preços na economia e as projeções sobre o tema.
Entenda o que é e como funciona esse documento!
Boletim Focus
O Boletim Focus é um documento que traz as principais informações macroeconômicas nacionais e apresenta projeções de indicadores da economia. Para criar o relatório, os responsáveis fazem pesquisas e avaliam os dados com diversas instituições financeiras por 30 dias.
Os resultados obtidos com os indicadores são apresentados em forma de tabelas ou gráficos. A divulgação do boletim é feita semanalmente, e para acessar o documento, basta entrar no site do Banco Central.
Na plataforma, você encontrará desde o relatório mais recente até aqueles de períodos anteriores, organizados por ordem de divulgação. Assim, é viável utilizar as informações obtidas e os históricos para projetar expectativas para o cenário econômico futuro. Isso pode influenciar diversas decisões políticas e até de investimentos, como a compra de um imóvel financiado.
Em relação à inflação, o Boletim Focus apresenta dados relevantes sobre o tema. Entre eles, você encontra o índice acumulado ao longo do tempo, a meta de inflação para o período e as projeções e expectativas futuras.
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